No Hospital de Campanha do Maracanã, uma médica pediu demissão por causa da falta de infraestrutura para trabalhar no local.
Era o primeiro dia de plantão da anestesista Priscila Eisembert. Ela denuncia que faltam medicamentos e exames para os pacientes.
“Tem muito profissional querendo trabalhar (…) mas infelizmente não dá pra ter estômago pra ver essa atrocidade. O médico, infelizmente, não faz milagre. Ele precisa ter o mínimo pra trabalhar. Aquilo é um CTI de fachada. Não tem nem o mínimo de um CTI”.
Os sedativos são medicamentos fundamentais para quem está recebendo tratamento. Mas, segundo a médica, não parecem ter sido prioridade para o hospital.
“Não tinha midezolan e fentamil. São sedativos. O paciente precisa tá acoplado à ventilação mecânica e eles precisam estar bem sedados. Se não a gente não consegue usar o ventilador. Se não estiver sedado, além de ele brigar com o ventilador, a gente não consegue botar os parâmetros ideais no ventilador. E em termos emocionais também é muito ruim porque o paciente acaba tendo consciência. (…) E a gente não tinha nenhum betabloqueador, que a medicação que eu precisava fazer pra ele”.
Durante o plantão, a médica disse que viu duas pessoas com Covid-19 morrerem.
Pra ela, a falta do básico pode ter custado a vida delas. Em um dos casos não havia o medicamento certo. No outro, a paciente não passou pelos exames necessários.
“Foi um paciente jovem, que eu precisei mudar o tubo dele, que tava furado. O tubo que fica da boca pra traqueia que fica acoplado ao ventilador mecânico, que faz ele respirar. E a parte que veda tava furada. Isso acontece e eu tive que trocar. E não tinha relaxante muscular. A sociedade de anestésio, a sociedade de medicina, deixam claríssimo que a gente tem que entubar o paciente com relaxamento muscular (…). Eu demorei um pouco mais porque tava muito difícil a entubação dele e ele acabou parando. Veio a óbito”.
A outra vítima era de uma jovem de 22 anos.
A paciente estava sob cuidados de outro médico, mas a mobilização dentro do hospital foi tão grande que Priscila foi ajudar.
“A gente tava há 2 dias sem nenhum exame laboratorial no sistema. Cheguei a ligar para o laboratório e me foi informado que iriam corrigir e que não podiam imprimir e trazer no setor pra mim. Ela não tinha autorização também pra passar via telefone. Pacientes do CTI precisam ter rotina laboratorial diária. E esses pacientes do hospital de campanha estavam há mais de 2 dias sem nenhum exame de sangue. Não tinha também fita pra testar o diabete”.
A médica trabalha no Sistema Único de Saúde há 10 anos.
Está acostumada a lidar com estruturas precárias e ter que improvisar. Mas dessa vez, o cenário que encontrou foi ainda pior.
O que diz a Secretaria
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde disse que constatou a falta de medicamentos e que vai cobrar providências à Organização Social Iabas, que é responsável pelo hospital.
A Iabas, por sua vez, afirmou que não há falta de remédios.
fonte: www.agoranoticiasbrasil.com.br