Ali mesmo, do banco de couro de sua Pajero 4×4, Marcelo Afif Cury, então com 22 anos, herdeiro de usinas de açúcar e álcool no interior paulista, acabou com a discussão. Pegou a pistola no console do freio de mão, onde também descansava seu Ray-Ban aviador, e atirou contra seus três novos desafetos.
Parece capitulo de novelas, mas não é
Sábado, 5 de abril de 1997. Um rapaz de 22 anos é acusado de matar outros dois com tiros na cabeça e nas costas e de ferir um terceiro em frente a um bar badalado da zona sul em Ribeirão. Convence um funcionário da empresa de sua família a levá-lo numa fuga alucinada, o carro capota e o empregado morre.
Diz a acusação que Cury atirou às 19h45 daquele dia em Marco Antônio de Paula, 29, João Falco Neto, 34, e Sérgio Nadruz Coelho, 35, na região da choperia Albano’s, que integrou o ápice da efervescência noturna vivida por Ribeirão na década de 90.
O crime, um dos mais emblemáticos da história local, teria ocorrido após uma discussão no cruzamento da Presidente Vargas com a Nélio Guimarães, na zona sul.
Após Cury atirar duas vezes em Falco Neto -uma na cabeça-, disparou cinco tiros na direção de Marco Antônio, que corria. Quatro acertaram suas costas. Eles morreram. Coelho, o único que sobreviveu, foi baleado.
A Taurus calibre 380 usada pelo usineiro já estava descarregada nesse momento.
Cury foi indiciado por homicídio duplamente qualificado, levado por motivo fútil e com recurso que impossibilitou a defesa às vítimas.
Até hoje, quase duas décadas depois, Cury não sentiu a temperatura das algemas nos pulsos nem precisou sentar diante de jurados para convencê-los de que matou por necessidade (em legítima defesa) -sua alegação.
O usineiro não está foragido. E nunca foi julgado. Conseguiu encontrar brechas na lei tendo como defensores alguns dos advogados mais famosos (e caros) do país, como o ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos (1935-2014). Hoje, é cliente de Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, recentemente cotado para o ministério de Michel Temer.
Os motivos
A fatídica discussão começou porque uma das vítimas, o representante comercial Marco Antonio de Paula, 29, não gostou de ver o usineiro e seus colegas sentados sobre o capô de seu Vectra.
Em desvantagem, pediu a ajuda de dois amigos: Coelho e o comerciante João Falco Neto, 34, este baleado na cabeça ao lado do carro.
Se fosse um cidadão comum, ele ainda estaria livre? Para a justiça que é “cega” o Rico tem privilégios?