Por Isabel Marçal e Milena Fanucchi
A multiplicidade de papéis impostos pela sociedade às mulheres é um dos principais fatores do adoecimento psicológico, sobretudo, porque temos a tendência de cuidar do outro com dedicação e, muitas vezes, abnegação. Com isso, deixamos de lado a pessoa mais importante nessas relações: NÓS. A persona da “mulher-maravilha” – defendida como ideal pelo modo de vida contemporâneo – sobrecarrega este ser humano que, como qualquer outro, também precisa de cuidados, atenção e espaço para ter uma vida plena. Com tanta pressão externa para cumprir as diversas tarefas, acabamos sufocadas e correndo o risco de desenvolver problemas psicológicos como ansiedade, transtornos alimentares, depressão e questões associadas ao ciclo reprodutivo.
O outro lado dessa moeda é a dificuldade de pedir ajuda! Um estudo conduzido pelo Instituto de Pesquisa da Saúde da Mulher da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, aponta que as mulheres são mais propensas a se sentirem estigmatizadas ao buscar assistência para um problema de saúde da mente. Na prática, elas tendem a confiar muito mais nas opiniões do mundo exterior – como fonte para fortalecer a autoestima – do que os homens. Como resultado, muitas vezes, evitam pleitear apoio, porque querem evitar julgamentos de terceiros.
Esse estigma é maior entre as mulheres negras, de acordo com levantamento da Johns Hopkins Medicine. O estudo relata que embora as mulheres tenham duas vezes mais probabilidade de sofrer de depressão grave, negras têm metade da probabilidade das brancas de pedir ajuda a um profissional de saúde da mente. Os pesquisadores acreditam que a cultura das comunidades historicamente minorizadas pode ser um obstáculo, porque apresenta, em certa medida, as mulheres como seres “fortes e inabaláveis”, colocando as necessidades de seus entes queridos acima das suas.
Na prática, depressão, ansiedade, sofrimento psicológico, assédio sexual e violência doméstica afetam mais as mulheres do que os homens no mundo. A prevalência de doenças graves da mente é quase 70% maior nas mulheres; elas têm duas vezes mais chances de ser afetadas pelo Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), depressão e síndrome do pânico – segundo a organização americana Anxiety and Depression Association of America (ADAA). Em relação aos transtornos alimentares, elas têm quase dez vezes mais probabilidade do que os homens de serem afetadas. Pesquisadores da Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmam que mulheres que foram expostas a abusos sexuais quando crianças – ou a um parceiro violento quando adultas – são diagnosticadas com depressão em uma taxa muito maior.
Diante desse cenário, um grande passo para combater esse problema reside na melhora do diagnóstico e do tratamento das condições de saúde da mente feminina. Um dos pilares é a educação, ou seja, fornecer informações de qualidade sobre os transtornos e os tratamentos, além de ações de autocuidado – que podem ser tomadas para prevenir e diminuir a incidência dos diversos transtornos. Para evitar o sofrimento psíquico, é necessário criar momentos para observar os sentimentos, as emoções e os pensamentos que estão dentro de nós. Precisamos, também, falar mais, refletir e transformar o cenário da saúde da mente delas.