A Rússia anunciou nesta sexta (17) um dos maiores exercícios militares surpresa de que se tem notícia no país, envolvendo 150 mil soldados.
Ele começou a ser conduzido no flanco sudoeste do país, o que gerou alarme na vizinha Ucrânia.
Segundo divulgou a agência estatal Tass, o ministro Serguei Choigu (Defesa) disse que haverá 56 exercícios táticos em 35 campos de treinamento e 17 áreas navais, nos mares Negro e Cáspio.
“A checagem surpresa envolve 149.755 pessoas, 26.820 armamentos e veículos militares, 414 aeronaves e 106 navios de guerra e suporte”, disse Choigu, que citou ordens diretas do presidente Vladimir Putin para a execução do teste.
Nesse tipo de manobra, os comandantes checam a rapidez com que suas tropas são mobilizáveis para pronta ação.
Os números anunciados, se verdadeiros, são superlativos.
O maior exercício militar russo desde a Guerra Fria havia acontecido em 2018, reunindo 300 mil homens na Sibéria.
Mas ele era uma ação planejada com bastante antecedência -todo ano, a Rússia faz um grande exercício em uma de suas regiões estratégicas.
O exercício desta sexta mobilizou tropas dos distritos militares Meridional e Ocidental, visando preparação para a grande simulação deste ano, o Kavkaz-2020 (Cáucaso-2020), marcado para setembro. Além disso, foram envolvidas fuzileiros navais da frotas Setentrional e do Pacífico, e forças paraquedistas.
Com isso, Moscou quer demonstrar para o Ocidente que, apesar de ser um quinto país do mundo mais afetado pela pandemia do novo coronavírus, mantém sua capacidade de mobilização rápida.
Além disso, é uma reafirmação interna de poder, no momento em que Putin enfrenta alguns protestos contra o referendo que lhe deu, há duas semanas, a possibilidade de tentar permanecer na Presidência até 2036.
Exercícios militares são uma constante no país de Putin, e neste ano mesmo já haviam sido dadas outras demonstrações de força. China e outros adversários regionais dos Estados Unidos, como Irã e Coreia do Norte, também fizeram o mesmo.
Já os americanos têm focado principalmente em sua disputa estratégica com Pequim, fazendo manobras ostensivas no mar do Sul da China, que os chineses consideram seu quintal. Enquanto isso, o embate segue na área comercial (guerra tarifária), tecnológica (veto à Huawei no 5G) e diplomática (sanções devido à nova lei de segurança em Hong Kong).
Além disso, Rússia e EUA não têm se acertado acerca de seus arsenais nucleares, com o governo de Donald Trump deixando tratados de controles de armas, enquanto Putin acelera o desenvolvimento de novos mísseis.
De forma menos generalista, a Ucrânia recebeu a notícia de Moscou com preocupação. O país perdeu a Crimeia para Moscou em 2014, na esteira da revolta que derrubou o governo pró-Kremlin em Kiev, e o conflito congelado com separatistas russos étnicos no seu leste já matou 13 mil pessoas.
O Ministério da Defesa ucraniano determinou alerta e afirmou que fará um exercício militar grande em setembro, coincidindo com o Kavkaz-2020.
Convidou países da Otan (aliança militar ocidental) para participar das manobras, o que vai desagradar o governo Putin.
A Rússia considera a Ucrânia um ponto vital de separação entre seu território e as forças ocidentais.
É essa a lógica que rege as ações de Putin em sua periferia ex-soviética, como também a Geórgia, onde travou guerra em 2008.