O Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto passou a integrar a lista dos centros de referência internacionais no tratamento da urticária, condição que vai afetar pelo menos 20% da população em algum momento da vida.1 Apenas 27 centros em todo o mundo receberam esse título de excelência, sendo 6 deles no Brasil, que é o primeiro colocado no mundo em número de centros certificados.2
Para receber a certificação UCARE (Urticaria Center of Reference and Excellence), os centros especializados em urticária foram avaliados em 32 critérios pré-estabelecidos, relacionados a infraestrutura, ensino, pesquisa, conscientização e aderência às diretrizes internacionais de diagnóstico e tratamento. O objetivo de criar essa rede mundial de referência é aumentar o conhecimento sobre a doença por meio da pesquisa e educação, melhorando o diagnóstico e proporcionando excelência nos tratamentos, padronizando a abordagem ao paciente com urticária. Assim, o paciente com urticária que chega a um UCARE recebe exatamente o mesmo atendimento, seja em São Paulo, Berlim, Barcelona ou Toronto. Para conquistar essa certificação, os centros precisam apresentar aos auditores um ambiente de atendimento adequado e provar na prática sua adesão aos mais avançados padrões de manejo da urticária, em concordância com o praticado nos melhores centros europeus.3
Para a Dra. Luisa Karla Arruda, Professora Titular do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP, a importância do certificado para a especialidade deve ser reconhecida. “O certificado UCARE recebido pelo nosso serviço é um reconhecimento da excelência da nossa equipe no manejo de pacientes urticária e uma conquista muito importante para a especialidade de Alergia e Imunologia em nosso país. Este certificado nos permite estreitar contato com os melhores centros de urticária do mundo”, destaca Arruda.
Ela também ressalta como a interação com outros centros de referência ajuda a prover o melhor atendimento possível aos pacientes: “A oportunidade de atualização sobre temas em urticária crônica e a possível troca de experiência entre nosso centro e os maiores nomes da especialidade nos permite aprimorar o conhecimento, e nos encoraja a fazer tudo o que for possível para fornecer o melhor tratamento para os nossos pacientes com a doença”.
A certificação é emitida pela rede GA2LEN – Global Allergy and Asthma European Network, que reúne os principais serviços clínicos europeus e instituições de pesquisas na área de alergologia e asma, em associação com a Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica (EAACI).3
Sobre a urticária
Estima-se que cerca de 20% da população mundial já tenha sofrido com a urticária em algum momento da vida.1 Conhecida popularmente como uma doença alérgica da pele, a urticária pode causar problemas que vão além das lesões avermelhadas e coceira, impactando diretamente a qualidade de vida dos pacientes.4
Existem diversos tipos de urticária e, ao contrário do que muitos pensam, nem sempre a urticária é uma alergia a algum fator externo, como alimentos, bebidas, medicamentos ou substâncias que tiveram contato com a pele.5 As lesões de urticária duram no máximo 24 horas no mesmo local, quando se resolvem sem deixar marcas ou cicatrizes, aparecendo, em seguida, em outras partes do corpo.5 Nos casos agudos, esse fenômeno ocorre por até 6 semanas.5 No entanto, na urticária crônica, isso persiste por mais de seis semanas, com as lesões ocorrendo praticamente todos os dias e a doença pode prolongar-se por meses ou anos.6 Cerca de 63-93% das urticárias crônicas são espontâneas, ou seja, acontecem sem que sejam causadas por qualquer fator externo desencadeante, dificultando o diagnóstico.5 Para esses casos, o tratamento preconizado pelos UCAREs permite que 93% dos pacientes atinjam o controle dos sintomas.7
Nos casos crônicos, o impacto na qualidade de vida já é considerado similar ao de doenças cardíacas e maior do que o causado por outras doenças dermatológicas como hanseníase e psoríase em placas.8,9 Em razão da coceira intensa e da imprevisibilidade das crises, o impacto da urticária crônica na qualidade de vida dos pacientes vai muito além do aspecto visual, incluindo o prejuízo ao sono e afetando o estado mental, as atividades profissionais, as relações conjugais e sociais.10
O tratamento é feito à base de antialérgicos e outros medicamentos, como os imunobiológicos, de acordo com a necessidade de cada paciente.5-7
Referências
- Criado PR et al. Urticária. An. Bras. Dermatol. vol.80 no.6 Riode JaneiroNov./Dec. 2005
- UCARE – A GA2LEN NETWORK. Disponível em: http://www.ga2len-ucare.com/centers.html. Último acesso em: 17/07/2017.
- Maurer M, Metz M, Bindslev-Jensen C et al. Definition, aims, and implementation of GA(2) LEN Urticaria Centers of Reference and Excellence. Allergy. 2016 Aug;71(8):1210-8.
- Greaves MW, Sabroe RA. Allergy and the skin. I – Urticaria. BMJ. 1998;316:1147-50
- Zuberbier T, Asero R, Bindslev-Jensen C et al. EAACI/GA(2)LEN/EDF/WAO guideline: definition, classification and diagnosis of urticaria. Allergy 2009;64:1417-26.
- Maurer M, Weller K, Bindslev-Jensen C et al. Unmet clinical needs in chronic spontaneous urticaria. A GA²LEN task force report. Allergy. 2011 Mar;66(3):317-30.
- Kaplan AP. Therapy of chronic urticaria: a simple, modern approach. Ann Allergy Asthma Immunol. 2014 May;112(5):419-25.
- O’Donnell BF, Lawlor F, Simpson J et al. The impact of chronic urticaria on the quality of life. Br J Dermatol. 1997 Feb;136(2):197-201.
- Silvares MR, Fortes MR, Miot HA.. Quality of life in chronic urticaria: a survey at a public university outpatient clinic, Botucatu (Brazil). Rev Assoc Med Bras. 2011 Sep-Oct;57(5):577-82.
- Maurer M, Staubach P, Raap U et al. H1-antihistamine-refractory chronic spontaneous urticaria: it’s worse than we thought – first results of the multicenter real-life AWARE study. Clin Exp Allergy. 2017 May;47(5):684-692.