Era final de 1964. O movimento militar que, em março desse ano, mandou João Goulart para o exílio e encastelou os generais no poder, gerou um sentimento nacionalista capaz de lhe assegurar alguma estabilidade inicial. Tanta que, 10 anos depois, transformou em sucesso uma música com o título “Eu te amo meu Brasil” e slogans como “Brasil: ame-o ou deixe-o”.
Mas, no final de 64, saída dos corredores do poder e com o apoio de Assis Chateaubriand, o imperador dos Diários Associados, rede de jornais, rádios e televisões, surgia a campanha “Ouro para o bem do Brasil”.
Era uma ação de cunho nacionalista: partia do princípio de que o País tinha uma dívida externa alta; de que era preciso incentivar a união coletiva em torno do reerguimento nacional e de que a identidade nacional em torno de uma ação dessas tenderia a gerar simpatia ao novo regime. Deu certo.
À custa de muitas e muitas alianças de casamento doadas por todo tipo de gente. Rica ou pobre. Crente ou ateu. Nacionalista ou não. Em Mogi, até comunista andou doando aliança para o novo regime. Coisas do Brasil.
A campanha, que se espalhou pelo País, funcionava da seguinte forma:
instituições de serviço público – em Mogi – encomendavam alianças de latão, feitas às cargas, com a inscrição:
“Dei ouro para o bem do Brasil”.
Para cada cidadão que depositava, em uma urna, a sua aliança de ouro 18K, entregavam uma daquelas alianças de latão. Ficava preta em pouco tempo.
A cromação Nikko, que na época funcionava na Rua Barão de Jaceguai, altura do número 370, andou cromando muitas delas. Quem tinha maior cuidado, mandava dourar em ouro baixo.
Na igreja desativada da Rua Dr. Deodato Wertheimer montaram o altar da pátria. Uma urna na mesa de celebração, volteada por bandeiras do Brasil, de São Paulo e de Mogi. Na guarda, sentinelas do Tiro de Guerra. De prontidão, entregando uma aliança de latão em troca da de ouro, escoteiros do professor Mehlmann. O cenário ficou montado por quase um mês, 24 horas por dia.
Não me lembro – e não achei em arquivo algum – das estatísticas da campanha.
Sei que a dívida externa nunca foi liquidada.
Sobrou-me uma aliança de latão, que achei esta semana, perdida numa caixa velha de papelão. Preta que nem breu. Pensar que, em troca dela, entreguei à campanha as alianças de casamento de meus pais. Com seu consentimento é bem verdade.
CARTA A UM AMIGO
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