Prestes a comemorar a primeira vitória legislativa de sua presidência (aprovação da Reforma Tributária), Donald Trump celebra também resultados econômicos – principalmente da bolsa de valores – como méritos dele. Idiossincrasias trumpianas à parte, qual presidente, com resultados positivos assim, não faria o mesmo? Nenhum. Hoje, uma das celebrações veio em caixa alta, para não deixar dúvidas sobre a exclamação.
“DOW SOBE 5000 PONTOS NO ANO PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA – TORNE A AMÉRICA GRANDE NOVAMENTE!”
“Pontos” só têm sentido quando medidos em percentual. E em percentual, o aumento do índice Dow Jones neste ano foi de 25,45% (5.030 de 19.762 pontos para quem gosta de matemática). É um resultado excelente, histórico e com a perspectiva positiva para 2018. No primeiro ano do mandato de Barack Obama, o crescimento do Dow foi de 18,8%. Em 2013 foi de 26,50%. Do início de 1995 ao fim de 1999 o Dow subiu 199% – triplicou em valor de mercado – com crescimento médio de 24,6% ao ano. Da história mais recente, o ano de maior crescimento foi 1975, com aumento de mais de 38%. Então o “primeira vez na história” vem com a dose – normal – de falta de contexto.
Outro fator relevante aqui é o “papel” do Trump nesse crescimento. Depois de um ano pífio em 2015, com queda nesse mesmo índice da bolsa de NY, a economia americana viu um crescimento saudável no ano eleitoral, de 2016. Nos anos Obama, o desemprego foi cortado pela metade e essa tendência se manteve no primeiro ano de mandato de Trump. A economia americana e mundial estão num caminho ascendente. Os resultados da bolsa refletem tanto a tendência semeada em anos anteriores como também a expectativa positiva para o governo atual. Trump vem cortando regulamentos que a indústria vê como freios econômicos e os investidores se animam também com a perspectiva de uma redução histórica na tributação das empresas americanas. O partido republicano defende que esses cortes levarão a indústria a empregar mais e que emprego é o que o povo mais precisa. O vento econômico está em popa na nau de Trump.
Os riscos de o barco cambar existem e pouco de fato foi realizado pelo governo atual. Mas o mercado tem demonstrado até uma teimosia em relação a Washington. Pouco importa se a oposição democrata ameaça com gritos delirantes de impeachment, se houve ou não conluio com os russos ou obstrução de justiça, se os EUA desistiram de contribuir para atenuar o aquecimento global, se Trump e o ditador norte coreano trocam xingamentos de jardim de infância, se a verdade dos fatos depende da lente alucinógena do poder executivo, se a Casa Branca morde e assopra Pequim e Moscou ou se as vozes ultranacionalistas crescem no país. Com vendas e investimento aumentando, com uma base econômica saudável, basta o governo sair da frente e não atrapalhar, que está tudo bem para a bolsa de valores. Inclusive, essa é uma máxima do conservadorismo econômico do partido republicano que o governo tem seguido à risca.
Qualquer presidente se vangloria de feitos de administrações passadas. Isso não tira o mérito do presente, só torna mais importante medirmos as devidas proporções.