José Mário Cândido, 61 anos, é muito conhecido nas rodas de capoeira em Ribeirão Preto, onde mantém o grupo de capoeira Senhor do Bonfim, criado há 40 anos. O grupo ribeirão-pretano é formado por alunos e pelo núcleo familiar: esposa e os cinco filhos do capoeirista. Mas fora do Brasil Mestre Fumaça, como é conhecido, é uma espécie de embaixador brasileiro desta dança, música e luta como muitos gostam de definir a capoeira no exterior.
Neste sábado, dia 8 de julho, ele embarca para a terceira turnê à Europa. Na Alemanha, ele participará de um evento de formatura de nove alunos. A viagem internacional ainda tem uma parada na Ucrânia, também como o mesmo objetivo, a formatura de dez capoeiristas europeus treinados pelo irmão.
“Vou participar primeiro de um workshop, levar o meu conhecimento e experiência para eles [mestre Fumaça é campeão Baiano, Paulista, Brasileiro e Mundial de Capoeira]. Neste intervalo, haverá as formaturas, vou avaliá-los e amarrar as cordas; serei o paraninfo dos 19 formandos que após 4 anos de treinamento se tornarão capoeiristas”, explica.
O trabalho lá fora começou há 14 anos com o irmão Marcelo, que é casado com uma alemã e mora em Hamburgo.
“Levo minha cidade para vários países e cidades do Brasil. Ex-menino de rua, engraxate na rodoviária, sem perspectiva de vida, a capoeira me deu oportunidade de vida aos 20 anos”, conta.
A valorização da capoeira no exterior é muito grande. “Os alemães, por exemplo, acham ‘a capoeira muito exótica”.
Defesa na senzala
No Brasil, a capoeira surgiu nas senzalas. Para os negros foi um instrumento de defesa pessoal e luta contra o regime de escravidão. Se no passado serviu a propósitos de libertação, hoje é vista como um esporte educativo e exportada para todos os continentes.
Em Ribeirão Preto, a capoeira pode ocupar um espaço maior nas comunidades, uma vez que oferece oportunidade para muitas pessoas que não podem praticar um esporte. “Quem sabe conseguir o feito que eu consegui; porque quem nasce pobre: ou vai trabalhar como um ‘cavalo velho’, ou estudar muito para vencer na vida, ou parte para o mundo do esporte, que vai abrir portas mais facilmente para as pessoas pobres”, ressalta.
A capoeira hoje está muito ligada à educação.
“Através dela já tirei pessoas dos vícios e das drogas. Tenho alunos que fazem faculdade, pessoas que começaram comigo em um projeto social nos bairros. Nem todos se salvam, mas conseguimos encaminhar boa parte deles”, comenta.
A Secretária de Cultura de Ribeirão Preto, Isabella Pessotti, parabenizou o Mestre Fumaça pelo trabalho e desejou boa sorte na viagem.
“É um orgulho para Ribeirão Preto saber que a cultura que é produzida aqui terá este alcance internacional, além de estar muito bem representada pelo mestre Fumaça, e projetar gente lá fora”.