A divulgação da folha de pagamento da USP mostra as distorções nos salários. Dois mil funcionários ganham mais do que o governador de São Paulo. Um professor aposentado chega a receber três vezes mais: R$ 60 mil.
E a conta da USP não está fechando. No primeiro semestre, a universidade recebeu do estado R$ 2,150 bilhões e gastou R$ 2,270 bilhões com pessoal.
Os salários de professores e funcionários consomem 105% do orçamento da USP. Desde segunda-feira (17), quem quiser pode se inscrever no programa de demissão voluntária. E, em nome da transparência, a reitoria publicou na internet os vencimentos brutos e líquidos de todos os servidores.
“Eu acho que uma pessoa que estudou toda uma vida e tem uma contribuição muito grande, essa pessoa tem que ser muito bem remunerada”, diz Tadeu Cendon, universitário.
“Foi importante inclusive para ver muito professor que não é tão bom assim ganhando muito bem e professores que dão uma aula ótima ganhando menos, então é bem importante”, afirma Vitor Pereira, universitário.
O Sindicato dos Trabalhadores da USP também espera que a publicação sirva para corrigir distorções. “Ajuda a gente ver quem teve privilégios ou não dentro da universidade. Que tem uns técnicos administrativos que estão ganhando R$ 30 mil, outros estão ganhando R$ 5 mil”, afirma Solange Veloso, diretora do Sindicato dos Trabalhadores da USP.
Esse salário de R$ 30 mil pode estar mesmo com os dias contados. A legislação impõe um teto aos vencimentos dos professores e funcionários da USP. Esse teto é o salário do governador paulista, que recebe R$ 20.622 por mês.
A divulgação da lista mostrou que, dos 29 mil servidores da universidade, 2 mil estão ganhando acima disso. O maior salário, de um professor aposentado, passa de R$ 60 mil.
A reitoria diz que cumpre a lei e, se a Justiça determinar, vai cortar os valores.
“Como nós estamos obedecendo as decisões judiciais até agora, nós vamos aguardar uma decisão do Supremo. Se o Supremo interpretar de uma maneira diferente e decidir de uma maneira diferente, nós vamos cumprir”, diz Vahan Agopyan, vice-reitor da USP.
A Associação dos Professores defende que o teto não seja o salário do governador.
“Dezessete estados da Federação já adotaram o teto único, vinculado aos desembargadores do Tribunal de Justiça. É preciso que isso ocorra em São Paulo, porque você já tem o salário que é modesto e daí cortam o seu salário de uma forma inadequada, sem dúvida nenhuma você cria um desestímulo para gente continuar mantendo gente com competência em uma universidade que tem a relevância que a Universidade de São Paulo tem”, afirma Ciro Correia, presidente da Associação dos Docentes da USP.