Mitos e verdades do ensino bilíngue

A fluência em uma segunda língua nunca foi tão requisitada quanto o é hoje.

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arquivo pessoal

A fluência em uma segunda língua nunca foi tão requisitada quanto o é hoje. A busca pela introdução de um segundo idioma desde a primeira infância vem aumentando, de acordo com a Abebi (Associação Brasileira de Estudos Bilíngues), que registrou um aumento significativo de 10% no mercado de escolas bilíngues no Brasil desde 2014.

Esse tema, no entanto, embute muitos mitos. Entre eles, está a crença de que tudo que a aprendizagem bilíngue consegue é fazer com que a criança se torne um profissional mais completo.

Neste artigo desmistificamos alguns mitos e elucidamos os benefícios pouco conhecidos sobre o ensino bilíngue.

Mito 1: O único benefício de um segundo idioma é no mercado de trabalho.

Na década de 1980 foram desenvolvidas pesquisas na Suíça (Lewis Balkan), Ucrânia (Jim Cummins e Gulutsan) e Nigéria (Nduka Okoh) que evidenciaram que pessoas bilíngues apresentavam habilidades verbais mais aprimoradas, criatividade, capacidade analítica e melhoras inclusive nas habilidades matemáticas.

Capacidade para discriminar informações relevantes e irrelevantes, aumento na capacidade de processamento da linguagem e superioridade intelectual também são observados quando o ensino bilíngue é oferecido desde a primeira infância.

Mito 2: A criança pode ficar confusa ao tentar aprender duas línguas ao mesmo tempo, deixando-a atrasada.

Este mito deriva de pesquisas antigas e equivocadas. A superioridade intelectual e cognitiva de crianças que aprendem dois idiomas ao mesmo tempo já é comprovada. Uma pesquisa da Universidade de York (Canadá) mostra que elas adquirem vocabulário com uma profunda compreensão da estrutura de linguagem, e desenvolvem capacidade de concentração superior.

Além disso, não há pesquisas científicas que associem o bilinguismo a atrasos no desenvolvimento da fala de uma criança. Esse desenvolvimento exige que ela seja estimulada linguisticamente, sem pressão ou cobrança excessiva por parte dos pais (que podem criar inibição).


Mito 3: Ensino bilíngue na escola depois que o aluno já é mais velho é ineficaz.

Não há comprometimento na capacidade de aprendizado de uma criança por ser mais velha. O que ocorre é que, até três anos e meio de idade, a criança está consolidando o desenvolvimento de uma língua para se comunicar com o mundo. Introduzir um segundo idioma neste momento apenas torna seu aprendizado mais natural.

Adolescentes e adultos também são capazes de se adaptar a uma nova língua mesmo em idades mais avançadas – desde que nisso estejam empenhadas (o mesmo valendo para a infância).

Mito 4: O vocabulário pode ser confundido na hora de se comunicar, fazendo com que a criança não consiga ser clara em línguas únicas.

Quem passa por uma alfabetização em duas línguas consegue distinguir com perfeição as duas falas. Um equívoco que pode acontecer é que algumas expressões são singulares de um determinado idioma, e ao querer comunicar o mesmo sentido em um idioma diferente, o interlocutor procura expressão similar adaptada, e essa equivalência nem sempre ocorre.


Mito 5: Ensinar duas línguas ao mesmo tempo, em diversas disciplinas, pode estressar o aluno com tantas associações de informações.

Ter a capacidade de falar mais de um idioma pode ser sinal de saúde mental, e não o contrário. De acordo com pesquisa de Ellen Bialystok, da Universidade de Nova York, publicada na Trends in Cognitive Sciences, entre os benefícios da flexibilidade mental de uma pessoa bilíngue está a capacidade de adaptação a mudanças.

O bilinguismo tem, inclusive, benefícios a longo prazo, como um envelhecimento saudável e o adiamento dos sintomas de demência em idosos.


Mito 6: O bilinguismo é algo para ser aplicado na escola apenas.

O ambiente familiar é uma importante ferramenta para dar continuidade ao aprendizado das crianças. Atividades que estimulem a aquisição de uma segunda língua – histórias, filmes, viagens e brincadeiras, entre outras – auxiliam e muito seu desenvolvimento.

No aprendizado bilíngue, o processo da fala de um novo idioma é natural, e não apenas um exercício de memorização de regras de gramática. E quanto mais contextualizado com seu dia a dia, mais eficaz é o aprendizado.

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O Grupo SEB, principal conglomerado de educação básica do Brasil, acaba de transformar algumas de suas unidades pelo país em bilíngues. Com o entendimento da importância do bilinguismo, em parceria com a Conexia, por meio do programa High Five – parceiro estratégico da Cambridge Assessment English (da Universidade de Cambridge), os alunos de Ensino Infantil terão 50% das aulas da grade curricular ministradas em inglês. No Ensino Fundamental I, a proporção será de 40%.

Daniellen Lopes Torres da Silva Zwierzynski é Diretora Nacional de Educação Bilíngue do Grupo SEB.