Patrimônio histórico de Ribeirão Preto, a avenida é a mais emblemática da cidade; obras começam em breve
A avenida mais emblemática de Ribeirão Preto, a Nove de Julho, vai ser restaurada e ganhar corredor exclusivo de ônibus. A obra será realizada pela Construtora Metropolitana S.A., que venceu a concorrência pública realizada pela prefeitura e executará a obra em 12 meses por R$ 31.132.101,77.
Além de uma restauração completa, respeitando todos os critérios de tombamento dos itens que constituem patrimônio histórico, a Nove de Julho vai ganhar corredores exclusivos para ônibus nos dois sentidos, em toda a sua extensão.
Com a licitação concluída e a homologação do contrato com a Metropolitana finalizada, a obra deve começar em breve, assim que estiver pronta a documentação para a assinatura da ordem de serviço.
A obra terá dois quilômetros de extensão, um de cada lado da Nove de Julho, a partir do cruzamento com a avenida Independência até a altura com rua Tibiriça, em frente ao Clube Recreativa. A partir deste ponto, as vias já têm asfalto, ao invés de paralelepípedos.
A Nove de Julho faz parte da história de Ribeirão Preto. Difícil encontrar quem não tenha uma lembrança envolvendo a avenida. Os casarões do século passado, que abrigavam os ‘coronéis’ do café e outros abastados moradores da cidade, as boates e barzinhos desde a década de 1980, que embalaram várias gerações e uniram muitos casais, as locadoras de vídeo, as clínicas e laboratórios médicos e as agências bancárias.
Mas, bem antes de todos estes imóveis, estão os centenários paralelepípedos e azulejos portugueses que formam os mosaicos do canteiro central, ambos tombados pelo Conppac (Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural) e pelo CONDEPHAAT (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico). Assim como eles, também são patrimônios da cidade as árvores sibipirunas, que há mais de 70 anos sombreiam a avenida e formam tapetes amarelos que encantam motoristas e pedestres.
Os três itens – paralelepípedos, mosaicos e sibipirunas – serão restaurados e adequados, mas totalmente preservados pela obra.
PARALELEPÍPEDOS FICARÃO NIVELADOS
No caso dos paralelepípedos, todos serão retirados e recolocados de forma totalmente alinhada. Depois de retirados, será feita uma compactação de terra na base do solo, ou subleito. Em seguida, o piso receberá uma camada de brita e, sobre ela, outra camada de 12 cm de concreto armado. Depois desta, o solo ainda receberá um berço de areia compactado e, somente após esta etapa, será feita a recolocação dos paralelepípedos, que ficarão totalmente nivelados, sem perigo de ocorrer novamente os desníveis atuais que há décadas incomodam motoristas e usuários de ônibus.
MOSAICOS: AZULEJOS E DESENHOS SERÃO PRESERVADOS
As pedras portuguesas que formam os mosaicos do canteiro central também serão preservadas: retiradas e recolocadas na mesma ordem, para não alterar a configuração do desenho formado pelas pedras pretas e brancas intercaladas. Depois de reinstalados, não haverá mais os atuais buracos nem os desníveis causados pelas raízes das árvores, no calçamento.
CANTEIROS E SIBIPIRUNAS PRESERVADOS
Também tombadas, as árvores sibipirunas serão todas preservadas.
Nas esquinas centrais, os canteiros serão ampliados até o alinhamento com as ruas – hoje, eles são mais largos, formando uma área de retorno bem maior que a largura das ruas que cortam a avenida. Com isso, os canteiros ganharão uma área extra, em cada esquina, permitindo que a construção das rampas para acesso de pessoas com deficiência seja feita bem longe das raízes das árvores.
Foto: Guilherme Sircili
RAMPAS E TRAVESSIAS PARA PEDESTRES
Serão criadas sinalizações para pedestres em todas as esquinas e construídas rampas de acesso nas dez esquinas do trecho, tanto nas calçadas como nos canteiros.
A obra ainda contempla adequação de guias e sarjetas nas calçadas e implantação de travessias com acessibilidade para pessoas com deficiência em todos os cruzamentos.
OBRAS ANTIENCHENTE
O projeto também inclui a construção de duas grandes galerias de águas pluviais. Elas vão criar uma ligação subterrânea entre a Nove de Julho e a Francisco Junqueira, descendo por baixo das ruas Marcondes Salgado e São José até o córrego Saudoso, solucionando o alagamento em toda a região central.
Hoje, as águas da Nove de Julho vão para a região do Shopping Santa Úrsula, alagando aquele entorno, e descem também para a região da Catedral.
NOVOS CENÁRIOS
Além dessa obra, a Nove de Julho vai ter o túnel da Independência passando por ela e interligando a avenida a duas outras importantes vias (a Independência e a Presidente Vargas).
Além disso, a obra vai agregar um cartão-postal à emblemática Nove de Julho: uma praça suspensa. O túnel vai passar por baixo da praça Salvador Spadoni, que fica na confluência das três avenidas mencionadas e está sendo totalmente remodelada.
A avenida Nove de Julho faz parte do Quadrilátero Central de Ribeirão Preto, mas a obra de construção de seu corredor de ônibus foi licitada à parte da obra do corredor do quadrilátero por conta da restauração necessária.
Foto: Guilherme Sircili
A HISTÓRIA DA NOVE
A avenida foi inaugurada há 101 anos, em 1922, mas só em 1934 passou a chamar-se Nove de Julho em homenagem à Revolução de 1932, uma guerra que acabou por colocar São Paulo contra todos os outros estados brasileiros. Antes, disso, a “Nove” chamava-se Avenida Independência.
O projeto da avenida foi idealizado pelo então prefeito João Rodrigues Guião, em 1921. No dia 7 de setembro de 1922, ele inaugurou o obelisco comemorativo, antes instalado no entroncamento da então Av. Independência com a rua Tibiriçá. Depois, o obelisco foi transferido para o ponto em que se encontra hoje, na confluência da Nove de Julho com a avenida criada depois, a atual Independência.
Em 1949, a avenida, antes de terra, foi calçada com paralelepípedos entre as ruas Barão do Amazonas e Cerqueira César. Neste mesmo ano, foram plantadas as 40 árvores sibipirunas, um serviço executado pela recém-criada Seção de Jardins e Horto Florestal da Prefeitura de Ribeirão Preto, sob a chefia do engenheiro agrônomo Geraldo Prado Garcia.
Segundo o historiador Calil Júnior, o prolongamento da avenida Nove de Julho, na década de 1950, acompanhou a criação de loteamentos naquela região, atendendo aos sistemas viários dos referidos loteamentos.
Durante a década de 1960, a “Nove” abrigou algumas das principais mansões de propriedade da elite econômica da cidade. Depois, em função de sua posição privilegiada (vetor sul da cidade), consolidou-se como um importante setor bancário.
Em 1981, havia quatro agências de bancos internacionais e nacionais instaladas na avenida. Já em 1987, eram doze agências e, no ano de 2000, 25 agências.
No dia 11 de julho de 2008, seguindo os critérios estabelecidos pelo Conpacc e pelo Condephaat, o então prefeito Welson Gasparini decretou o tombamento da avenida.
Foto: Guilherme Sircili