Revista inglesa retira publicação de estudo que invalidava cloroquina
OMS anuncia retomada de testes com hidroxicloroquina
Três dos quatro autores do estudo que invalidou o uso da cloroquina e do seu derivado, a hidroxicloroquina, em casos de Covid-19, afirmaram que não é possível garantir a veracidade dos dados do estudo, de acordo com o comunicado divulgado na tarde desta quinta-feira (4) no site da revista médico-científica britânica The Lancet.
Por isso, os cientistas pediram a retirada do estudo da publicação.
Os cardiologistas e cirurgiões Mandeep Mehra, Frank Ruschitzka e Amit Patel não obtiveram sucesso na validação independente dos dados usados para a publicação do estudo, o que torna impossível a checagem dos óbitos e o acesso às fichas completas dos 96 mil pacientes que fizeram parte do levantamento.
“Nós não podemos mais garantir a veracidade das fontes dos dados primários. Por causa deste desenvolvimento infeliz, os autores pedem que o artigo seja retratado”, afirma o médico e cientista Mandeep Mehra, em comunicado.
Publicado em 22 maio, o estudo afirmava que o uso de quatro protocolos diferentes de medicamentos – todos usando cloroquina ou sua variação moderna, a hidroxicloroquina – não surtiu efeito sobre o vírus SARS-CoV-2, agente causador da Covid-19.
O estudo relata que um dos efeitos colaterais descritos na bula dos medicamentos, a arritmia cardíaca, colocou em risco a vida de pacientes de diversos grupos, desde os menos severos até os que estavam em estado crítico.
A retratação do estudo acontece um dia após a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciar a retomada dos testes com ambas as substâncias.
Médicos, cientistas e estatísticos de diversos países também se manifestaram sobre a metodologia aplicada, que utilizou um banco de dados da empresa Surgisphere especializada em informações médicas
Em carta pública, 120 autoridades médicas contestaram os números, e solicitaram que a OMS conduzisse auditorias independentes para validar as informações relativas ao tratamento de pacientes com Covid-19.
“Nós todos entramos nesta [jornada de] colaboração para contribuir, em boa fé e em um tempo de grande necessidade, com a pandemia de Covid-19. Pedimos desculpas sinceras para você, para os editores e para os leitores do jornal [a revista The Lancet] pelo constrangimento e pela inconveniência causados”, informa a carta.
A retratação do estudo, assim como a íntegra da publicação original, ainda se encontram disponíveis no site da The Lancet.