‘Freiras’ ganham milhões com produtos de maconha e exportam até ao Brasil

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Numa tarde chuvosa de fevereiro, irmã Alice trabalhava na cozinha enchendo um grande aquecedor de sopa elétrico com potes de óleo de coco. Numa gaveta, guardava um caderno apelidado de “bíblia” para lembrar as receitas. Na geladeira, que ela chama de seu “armarinho de remédios”, mantinha dezenas de sacos transparentes que revelavam seu ingrediente mais precioso: maconha.

Não é uma maconha qualquer, assim como irmã Alice tampouco é uma freira qualquer. Na verdade, ela é judia, mas fez votos há quase dois anos para a ordem da Sisters of the Valley (irmãs do vale), um grupo de ativistas feministas que produzem remédios feitos de canabidiol (CBD), a substância não psicoativa da planta usada para fins medicinais.

Ainda que a maconha na geladeira não dê nenhum barato, por ser forte em CBD e ter quase nenhum THC (que é a substância psicoativa), irmã Alice, 52, gosta de compartilhar um baseado tradicional ao lado de suas irmãs no final do expediente. “A gente faz um chá, acende um e relaxa. Tarde da noite, pegamos algo mais forte, um concentrado ou uma cera. A gente dorme melhor”.

Formadas há quatro anos no centro rural da Califórnia, as Sisters of the Valley acabaram conhecidas como as “weed nuns”, ou “freiras da maconha”. Apesar de se vestirem como tal, elas não têm nenhuma filiação com religião e explicam que são “revivalistas das beguinas”, mulheres independentes que vieram antes das freiras católicas. Elas moravam juntas em comunidades perto dos castelos europeus e cuidavam dos mais pobres e doentes.

A fundadora do grupo californiano, irmã Kate, explica que não quer ofender ninguém, só manter um estilo de vida sereno e ajudar. “O principal mal-entendido sobre nós é achar que rezamos para a planta. Cannabis não tem nada a ver com nossa espiritualidade”, afirma, em seu escritório, numa das duas casas do terreno onde trabalham outras cinco irmãs.

No Brasil, três mulheres querem lançar um braço do projeto, mas não divulgam suas atividades, já que a droga é ilegal no país. Elas não moram na mesma cidade e querem agregar mais mulheres simpatizantes da causa. “Tenho prescrição médica para o uso e não posso dar mais detalhes sobre isso, apenas que estou fazendo algumas alquimias”, disse por e-mail irmã Flora, brasileira que visitou as Sisters of the Valley por uma semana em 2018. “Fui lá pela planta e pela causa. Elas são feministas, ativistas, pacifistas, anarquistas. Sou tudo isso”, continuou. “São mulheres inteligentíssimas, que passaram por situações limites em suas vidas e renasceram através dessa irmandade.”.

fonte: UOL