O número de medidas protetivas expedidas pela Justiça a pedido de mulheres vítimas de violência doméstica cresceu 17% de janeiro a julho deste ano em comparação ao mesmo período de 2020. Foram 903 solicitações, contra 767 no ano passado.
Se comparado a 2019, o número é 98% maior. No período, foram 455 pedidos, segundo dados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Moradora de Ribeirão Preto, uma mulher que prefere não se identificar, é uma das protegidas pela Justiça. Por dez anos, ela foi vítima do marido. Por causa do isolamento imposto pela pandemia, a situação piorou e ela buscou ajuda na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM).
“Eu não aguentava mais. Era muita coisa ruim que estava acontecendo comigo”, diz.
O crescimento dos pedidos de proteção coincide com os 15 anos da criação da lei Maria da Penha, um marco no combate à violência contra a mulher.
Adaptação para acolher
A juíza Carolina Moreira Gama, que atua na Vara da Mulher, afirma que as mulheres que já tinham histórico de agressões ou ameaças em casa ficaram ainda mais vulneráveis desde o início das restrições de circulação por causa da Covid-19.
“O que a gente percebeu é que, na pandemia, a gente regrediu um pouco nos enfrentamentos que a gente estava lidando. A mulher, à medida que ela é mais reclusa, que ela não consegue sair, que ela tem outros compromissos por conta das restriçoes de saúde, ela não conseguia acessar alguns serviços importantes. A gente avaliou que houve uma queda significativa no começo da pandemia. A mulher não acessava mais as instituições, e a gente teve que fazer todo um trabalho de retomada de aprimoramento dos contatos virtuais para que ela se sentisse atendida.”
Diante do cenário, o Núcleo da Justiça Restaurativa de Ribeirão Preto criou o projeto AmarEl@s. O programa reúne profissionais de diversas áreas para atender e amparar as vítimas.
Para ter acesso ao AmarEl@s, a mulher precisa procurar antes a Delegacia de Defesa da Mulher, que fica na Avenida Costábile Romano, 3.230, bairro Nova Ribeirânia. O telefone é o (16) 98856-3268.
Homens também são assistidos
Pelo programa, os agressores também são assistidos. O objetivo é fazer com que eles rompam o ciclo de violência e não retomem o comportamento abusivo no futuro.
“O projeto incorpora o homem a atividades que indicam ele para yoga, meditação e comunicação não violenta. Nós vamos tratar esse homem de forma ampla para verificar quais são os problemas que ele tem no exercício da masculinidade dele, para ele realmente parar de ser violento.”
A mulher amparada pelo projeto diz que ele funciona como o apoio necessário para recomeçar. Ela também incentiva pessoas que enfrentam o problema em casa a buscar ajuda.
“Ele coloca a gente em contato com psicólogos, advogados e com mulheres que passaram pela mesma coisa e a gente se ajuda. Tenham coragem, não deixe isso acontecer na sua vida. Você pode reconstruir sua história. Você vai ter apoio de muita gente que você nem conhece.”