Homenagear uma cantora como Gal Costa não é tarefa das mais fáceis. Com 50 anos de carreira, a cantora faz parte da história de muita gente e dá voz a uma série de compositores que vão de Tom Jobim a Caetano Veloso, passando por Dorival Caymmi, Jards Macalé, Chico Buarque, Luiz Melodia entre muitos outros, conferindo sua visão pessoal aos mais diferentes estilos e ritmos, em mais de 40 discos de estúdio, outros tantos ao vivo e, ainda, com parceiros.
Luiz Nogueira topou o desafio e em junho chega à cena musical “Fruta Gogoia – Uma Homenagem a Gal Costa”. O projeto será lançado pelo Selo Sesc nas plataformas digitais de streaming em junho, e posteriormente, também em CD, com encarte especial que traz uma gravura de Regina Silveira com a obra “Bicho Gal”, criada especialmente para este projeto. E em julho ganhará os palcos em dois shows no Sesc Vila Mariana, nos dias 8 e 9 de julho.
Para fazer jus à homenageada, Luiz Nogueira reuniu um verdadeiro time de mestres. A começar pelos cantores escolhidos: Jussara Silveira e Renato Braz. A direção musical e os arranjos ficaram a cargo de Dori Caymmi.
Foram selecionadas 18 canções das mais de 500 registradas pela Gal ao longo de seus 50 anos de carreira. Entre os compositores desta seleção, está um dos maiores parceiros da cantora: Caetano Veloso, de quem Gal gravou quase 100 canções até agora. Em “Fruta Gogoia” foram escolhidas para representar esta parceria com o compositor “Tigresa”, “Meu Bem, Meu Mal”, “Baby”, “Não identificado”, e “Força Estranha”.
“A escolha das músicas que integram o álbum foi afetiva. Das 540 canções, primeiro selecionei 80, lista que foi reduzida depois a 25, para chegar finalmente as 18 que integram o projeto”, conta Luiz Nogueira. “Além do filtro emotivo, consultei os parceiros deste projeto para, aí sim, chegar ao repertório”.
E a esta lista percorre muito dos 50 anos de carreira de Gal – desde o primeiro disco lançado, ao lado de Caetano Veloso, “Domingo”, de 1967, coincidentemente também com arranjos de Dori Caymmi –, até “Todas as Coisas e Eu”, de 2004.
Além das canções compostas por Caetano, fazem parte de “Fruta Gogoia” músicas emblemáticas como: “Estrada do Sol”, de Tom Jobim e Dolores Duran; “Vapor Barato”, de Jards Macalé e Waly Salomão; “Folhetim”, de Chico Buarque; “Volta”, de Lupicínio Rodrigues; “Pérola Negra”, de Luiz Melodia; “Sorte”, de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos; “Só Louco”, de Dorival Caymmi, entre tantas outras. Também não ficam de fora da homenagem “Modinha para Gabriela”, de Caymmi, composta para a novela “Gabriela”, exibida pela TV Globo em 1975, e “Tema para Gabriela”, em música composta por Tom Jobim para filme de Bruno Barreto, lançado em 1983. Ambas as obras baseadas no romance “Gabriela, Cravo e Canela”, de Jorge Amado. O próprio escritor declarou em entrevistas que Gal era a voz de todas as suas personagens femininas.
As obras não seguem nem uma ordem cronológica, nem uma concentração por discos – vai de “FA-TAL”, de 1971, a “Todas as Coisas e Eu”, de 2003.
Fechando o disco, com arranjo especial do acordeonista Toninho Ferragutti, está “Fruta Gogoia”, do cancioneiro popular pernambucano que, na voz de Jussara Silveira e nos vocalizes de Renato Braz, ganhou um tom agreste e delicado.
Os intérpretes
As duas vozes que interpretam as canções são reconhecidamente dois dos maiores intérpretes do país, que estão no auge de sua potência vocal, aos 50 anos, mas que nunca tinham se encontrado antes.
Além dos timbres especiais, os dois são, assim como Gal, intérpretes puros, ou seja, não são compositores, emprestando sua voz a outros autores e personalizando cada uma das canções a sua maneira.
Em “Fruta Gogoia”, os artistas ora se revezam na interpretação das canções, ora dividem o microfone. A ideia não foi criar outras versões para músicas que já têm as suas próprias ‘versões definitivas’ registradas pela Gal, mas, sim, trazer outro registro para o público conhecer estas mesmas canções.
Assim como Gal, Jussara Silveira apresenta em seu canto uma versatilidade que é capaz de atravessar diferentes estilos de música brasileira com a mesma suavidade – a artista já gravou desde compositores mais ‘tradicionais’, como Dorival Caymmi, a contemporâneos como Romulo Fróes, José Miguel Wisnik e Itamar Assumpção. A mineira criada em Salvador iniciou sua carreira nos anos 1990, na capital soteropolitana.
Também com início de carreira nos anos 1990, o cantor paulistano Renato Braz é reconhecido como uma das mais belas vozes masculinas brasileiras. Suas primeiras gravações conciliam o universo afetivo de sua formação (Luiz Gonzaga, Dorival Caymmi, Jackson do Pandeiro) com as criações de Dori, Paulo César Pinheiro, Gilberto Gil, Chico Buarque, entre outros compositores.
Regina Silveira
Ao ser convidada por Nogueira para desenvolver a capa do disco, a artista Regina Silveira não só aceitou prontamente como criou uma obra exclusivamente para o projeto: “Bicho Gal”. A gravura é o ponto central de todo o projeto gráfico, além de se transformar em um pôster encartado no CD físico. Segundo a artista, esta é a primeira de uma série intitulada “Fauna Brasilis”.
Além disso, Regina está criando para o show baseado no repertório do disco um cenário especial em que todos os elementos da colorida obra ganharão vida no palco.
Os arranjos
Além da dedicação em tornar este projeto uma homenagem à altura da artista homenageada, um dos principais cuidados foi nos arranjos e na direção musical de “Fruta Gogoia”, a cargo de Dori Caymmi. Não por acaso, o primeiro disco de Gal, “Domingo”, gravado em 1967, também trazia os arranjos de Dori, para um cantor (Caetano) e uma cantora (Gal).
Em comum, todos os arranjos pensados para as canções do disco traduzem a elegância das composições, chamando um time de músicos conceituados para executar suas faixas. Na lista entraram nomes como o próprio Dori, que toca violão em algumas das faixas; Itamar Assiere, no piano; Celso de Almeida, na bateria; Teco Cardoso, nos sopros; Swami Júnior, no violão 7 cordas; Sizão Machado, no baixo; Bré Rosário, na percussão; e Toninho Ferragutti, no acordeom. Toninho é responsável também pelo arranjo da canção que dá título ao disco. Além disso, Mário Gil faz a produção musical e o violão na faixa “Meu bem, meu mal”.
Algumas canções são acompanhadas por um octeto de sopros, com a nata dos músicos de sua vertente, outras por um quarteto de cellos ou um conjunto de cordas. Neste caso, a arregimentação ficou nas mãos do maestro Claudio Cruz.
Selo Sesc
O Selo Sesc tem o objetivo de registrar o que de melhor é produzido na área cultural. Constrói um acervo artístico pontuado por obras de variados estilos, da música ao teatro e cinema. Este ano já lançou os discos “Com Alma” (Banda Mantiqueira), Ensemble Música Nova” (Gilberto Mendes), “Guarnieri e Nepomuceno” (Orquestra Filarmônica de Minas Gerais e Cristina Ortiz), “Saudade Maravilhosa” (Mario Adnet), “Três no Samba” (Pelão) e o DVD “Alcance dos Sentidos” (Ivaldo Bertazzo).
Alguns dos CDs lançados em 2016 foram “A Saga da Travessia” (Letieres Leite e Orkestra Rumpilezz), “Novos Mares” (Fortuna), “Curado” (Hurtmold e Paulo Santos), “Donato Elétrico” (João Donato), “Portrait” (Maury Buchala), “Lambendo a Colher” (Rolando Boldrin), “Alberto Nepomuceno” (Quarteto Carlos Gomes) e “No Voo do Urubu” (Arthur Verocai), além dos DVDs ”O Fim do Mundo, Enfim”, “O Sal da Terra – Uma Viagem com Sebastião Salgado” e “Democracia das Madeiras”.
O show
Para lançar o projeto oficialmente, ocorrerão dois shows no Sesc Vila Mariana, dias 8 e 9 de julho. Os ingressos estarão à venda pela rede Sesc em data a ser anunciada em breve.
Com cenário especialmente criado por Regina Silveira, em que a obra “Bicho Gal” ganhará desdobramentos e movimento.
No palco, Renato e Jussara estarão acompanhados por um time especial de músicos para reproduzir, ao vivo, as músicas do disco. São eles: Toninho Ferragutti, no acordeon; Itamar Assieri, no piano; Mario Gil, no violão; Bré Rosário, na percussão; Edu Ribeiro, na bateria; Rodrigo Usaia, no sax e na flauta; Zé Alexandre, no baixo acústico; e Vana Bock, no cello. O show trará no setlist 16 das 18 canções do álbum.
Serviço
Dias 8 de julho às 21h e 9 de julho às 18h
Sesc Vila Mariana – R. Pelotas, 141 – Vila Mariana, São Paulo
Ingressos: Inteira, R$ 25,00; Meia-entrada, R$ 12,50 (aposentado, pessoa com mais de 60 anos, pessoa com deficiência, estudante e servidor da escola pública com comprovante); Credencial plena: R$ 7,50 (trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo credenciado no Sesc e dependentes)