Inesquecível PITER o rocha negra

De tanta marcação cerrada em Pelé, o próprio "Rei do Futebol" tentou levá-lo para o Santos, mas Mário Ricci, presidente do Comercial, na época, não deixou.

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Píter, o “Rocha Negra”, ex-quarto-zagueiro do América de São José do Rio Preto e Comercial, é considerado por Pelé como um de seus melhores marcadores. 

Hoje ele vive em Ribeirão Preto nos Campos Eliseos, onde está aposentado.

Eurípedes Fernandes, o Píter, nasceu na cidade paulista de Igarapava em 24 de abril de 1940, e começou sua carreira profissional pelo América de Rio Preto, clube em que atuou entre 1956 e 1960.  

Em seguida foram 13 anos pelo Comercial de Ribeirão Preto, entre 1960 e 1973, período em que o time viveu bons momentos e enfrentou o Santos Futebol Clube em diversas ocasiões, o que fez com que se torna-se reconhecido como grande marcador de Pelé. 

Um dos jogos mais marcantes contra o Peixe, que contou com a presença do Rocha Negra, aconteceu em um duelo na Vila Belmiro, que terminou com a vitória santista por 7 a 5. O Leão chegou a abrir 4 a 2 no placar, mas sofreu a virada com show de Coutinho, que marcou quatro vezes para os donos da casa.

Entre os títulos que conquistou pelo Comercial, destaque para o do Campeonato Paulista do Interior, em 1966.  

Deixou o clube ribeirão-pretano em 1973 para jogar pelo Atlético Goianiense, este o seu último clube, onde encerrou sua carreira em 1976.  

Teve uma passagem pela Seleção Brasileira de Novos, em 1963, tendo sido convocado para a Copa América daquele ano, na Bolívia, mas não chegou a atuar.  

Quando deixou os gramados, Píter trabalhou por oito anos como taxista em Ribeirão Preto, mas desistiu da profissão após ser assaltado e ameaçado com um revólver em sua cabeça.

Depois, trabalhou em escolinha de futebol da Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto.  

O Comercial Futebol Clube, atento ao seu passado, constantemente homenageia seus ex-jogadores, e Píter sempre é reverenciado pela torcida do Bafo.

O começo da carreira como profissional

Em 1956, numa partida contra o América, em São José do Rio Preto, o técnico do Diabo, João Avelino, ficou impressionado com o vigor físico de Piter, e convenceu seu pai, José Fernandes, a deixar que ele fosse levado para Rio Preto.

“Só se ele for agora. É até bom, porque já está querendo namorar sério”, falou o pai do jovem Piter para Avelino, que não perdeu tempo e profissionalizou o jogador.

Foram quatro anos defendendo o time do América de Rio Preto, antes da transferência para o Comercial, em 1960.

No Leão do Norte, o Rocha Negra viveria épocas memoráveis, fazendo parte de times históricos do Comercial, como o formado por Rosan, Piter, Jorge, Piloto, Amauri e Ferreira; Peixinho, Luiz, Paulo Bim, Jair Bala e Carlos César, que em 1966 ganhou o apelido de Rolo Compressor.
O auge da carreira

O bom futebol que o forte zagueiro Piter tinha, transforma-lo-ía em um dos destaques do Comercial, durante os anos 1960.

O primeiro Come-Fogo disputado por Piter foi no dia 8 de Novembro de 1961, no estádio Luiz Pereira, na Vila Tibério, e terminou empatado sem gols. Naquele dia o Comercial jogou com Cabeção; Antoninho, Savério e Toninho; Airton (Hugo) e Piter; Luís, Valter Marinho, Almeida, Carlos César (Airton) e Édson.

Em 1963, Piter defendeu a Seleção Paulista num jogo contra a Seleção Carioca, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro.

O Rocha Negra entrou em campo aos 12 minutos do primeiro tempo, após Djalma Santos se contundir, e ficou com a difícil missão de se atentar às investidas do ponta-esquerda Zagallo. Piter ia se saindo bem, até que em mais um lance típico de Garrincha, o gênio das pernas tortas, o Mané saiu fazendo fila até chegar no zagueiro comercialino, já na linha de fundo. Quando Piter pensou em fazer algo já era tarde. Com um giro de corpo, Garrincha se livrou de mais um e foi para as redes. O jogo terminou empatado em 3 a 3.

Ainda em 1963, devido às boas atuações, Piter foi convocado para a Seleção Brasileira de Novos, que disputou a Copa América daquele ano, na Bolívia, substituindo a Seleção Principal, que ainda vivia as glórias de ter conquistado o Bi mundial no Chile em 1962. Piter, que foi zagueiro reserva daquela Seleção de Novos, não chegou a entrar em campo em nenhuma das seis partidas do Brasil. O time brasileiro terminou aquela competição em quarto lugar, e os donos da casa, aproveitando a vantagem do frio e da altitude, foram os campeões.

Ao longo dos 13 anos em que defendeu o Comercial, Piter viveu muitas histórias dentro dos mais de 20 clássicos Come-Fogo que disputou.

Entre essas “lendas”, destaca-se uma em particular, de um jogo disputado em 1966, quando ele se posicionou na barreira para uma cobrança de falta de Carlucci, do Botafogo. Quando Carlucci bateu a falta, Piter descobriu porque ele era conhecido por todos como o “Canhão da Vila” (Canhão em referência ao seu potente chute, e Vila em referência ao bairro da Vila Tibério, onde o Botafogo foi fundado).

No encontro do Rocha Negra com a bola, a bola levou a melhor e Piter teve três dentes quebrados na hora.

Ainda em 1966, numa partida contra o Santos, na Vila Belmiro, o Comercial, que tinha um time forte naquela época, vencia o Peixe por 2 a 0. Tudo ía bem até que Pelé resolveu sair driblando todo mundo ainda em sua intermediária. O último homem de marcação no meio-campo comercialino era Amauri, que viu o Rei passar batido.

Sobrou para Piter, que o foi marcando de longe, levando a jogada para a bandeirinha de escanteio. Piter, então, calculou bem e deu um carrinho, mas passou lotado, acertando, e quebrando mesmo, a bandeirinha, e depois, ficando preso no alambrado. Quando se virou, só teve tempo de ver Pelé socando o ar, comemorando o gol como sempre, bem ao seu lado. No final, o Santos virou a partida e venceu por 3 a 2.

Nos anos seguintes, de tanta marcação cerrada em Pelé, o próprio “Rei do Futebol” tentou levá-lo para o Santos, mas Mário Ricci, presidente do Comercial, na época, não deixou.

Foto comunidade oficial