Desde o início da pandemia do novo coronavírus, em março de 2020, os trabalhadores do setor de bares e restaurantes vem sendo duramente penalizados. Os estabelecimentos tiveram de ser fechados às pressas, sem nenhum tipo de aviso prévio que permitisse um mínimo de planejamento e sem nenhum incentivo à manutenção dos negócios e dos empregos. Com alimentos perecíveis em estoque, muitos amargaram altos prejuízos e lidaram com a incerteza da reabertura. Como consequência, tivemos um grande volume de fechamentos e demissões no segmento.
Desde então, entidades do setor tem travado uma verdadeira luta pela preservação dos empregos em sintonia com os cuidados necessários para evitar a disseminação da doença. Neste sentido, as negociações coletivas foram fundamentais. Elas permitiram, de maneira emergencial, a suspensão dos contratos de trabalho, mediante pagamento de auxílio, e a redução de jornada e de salário. Não fosse isso, os impactos no setor seriam ainda mais devastadores.
O investimento na retomada segura também foi destaque. O setor se dedicou na elaboração de protocolos de segurança e treinamentos para proteger trabalhadores e clientes, reduzindo a capacidade de atendimento, o distanciamento entre as mesas, o uso de álcool em gel, máscaras e protetores faciais como itens obrigatórios.
Ainda assim, novas ordens de fechamento dos estabelecimentos à noite e aos finais de semana, justamente nos períodos de maior movimento, foram estabelecidas pelo Plano São Paulo. Mas, o mesmo critério não foi considerado para o transporte público, acesso às praias nas festas de Natal e Reveillon. Trata-se de uma grande contradição colocar bares e restaurantes como vilões da pandemia enquanto nada vem sendo feito para reduzir esse tipo de aglomeração. Com o desemprego batendo novamente à porta, os trabalhadores mais uma vez são surpreendidos por mais um decreto que limita o funcionamento dos estabelecimentos e não recebem aparato algum dos governantes.
O setor de bares e restaurantes congrega um milhão de negócios e gera seis milhões de empregos diretos em todo o Brasil, representando atualmente 2,7% do PIB nacional. Ou seja, prejudicá-lo, ainda mais diante de uma situação que já é crítica, significa prejudicar ainda mais o trabalhador com o consequente aumento do desemprego e aniquilação de qualquer possibilidade de recuperação econômica nos próximos meses.
É importante ressaltar aqui que a preocupação não é simplesmente econômica, é, acima de tudo, uma preocupação de cunho social. Estamos falando de pessoas desempregadas, passando fome, sem condições de manter suas famílias e cruzando a linha da miséria. Pessoas que precisam trabalhar, sobreviver e que estão longe de ser as vilãs dessa história.
Outro ponto importante é que manter bares e restaurantes fechados abre espaço para a proliferação de festas clandestinas, onde acontecem aglomerações em massa, sem nenhuma medida de proteção e longe dos olhos da fiscalização. Além do que, eventos como esses não contribuem para a geração de empregos formais.
Com a chegada da vacina, a situação tende a melhorar e precisamos de fôlego para resistir por mais algum tempo. Enquanto isso, o trabalhador do setor de bares e restaurantes não pode ser punido pelo aumento nos casos da doença.
O Sinthoresp e outras entidades do setor defendem o direito de trabalhar com segurança, e se comprometem, com responsabilidade, na preservação da vida e dos empregos.
Precisamos que o Estado garanta condições para as pessoas exercerem suas atividades e estamos a postos para dialogar em prol de soluções, seguindo todos os protocolos necessários, pois assim o benefício será enorme tanto para o sustento de milhares de famílias quanto para a economia e para a saúde da população. Poder trabalhar com segurança: essa é a nossa luta.
Rubens Fernandes da Silva é secretário-geral do Sinthoresp – Sindicato dos Trabalhadores em Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de São Paulo e região.
Sobre o Sinthoresp: