Festa de São Benedito, realizada há mais de 100 anos em Cruz das Posses, servirá de base para os cursos.
A família do senhor Antonio Carlos de Faria, formada por descendentes do casal Onório Neri do Sacramento e Mamedes do Sacramento, escravos libertos que se instalaram em Cruz das Posses (distrito de Sertãozinho), em 1889, num sítio conhecido como “Colônia Preta”, mantém viva há mais de 100 anos a tradicional Festa de São Benedito.
Bisnetos dos ex-escravos, Antonio Carlos e seus irmãos mobilizam filhos, sobrinhos, netos, bisnetos e amigos para trabalhar nos preparativos e organizar o festejo que reúne centenas de devotos e sempre acontece no (ou próximo ao) dia 13 de maio, data da Abolição da Escravatura.
No último domingo, dia 15, muitos desses fiéis saíram em procissão da Igreja Matriz de Cruz das Posses, às sete da manhã, para conduzir o andor com São Benedito por quase 9 km de estrada de terra, em direção à “Colônia Preta”. No caminho, demonstrações de fé e agradecimento por dádivas alcançadas, muitas delas relacionadas à cura de enfermidades, como a de um casal de sitiantes que ofereceu o café da manhã aos participantes da procissão.
Após quase quatro horas de caminhada, bem próximo ao local onde seria celebrada missa em louvor ao santo negro, a emoção toma conta dos devotos. Trazida pela família da “Colônia Preta”, a imagem de Nossa Senhora das Graças surge no meio do canavial e vem ao encontro de São Benedito, como a mãe que recebe o filho na entrada de casa.
Ao som das badaladas de um sino de bronze, cuja origem enche de orgulho aquela comunidade – foi doado pelo fazendeiro Francisco Schimidt quando da construção da
Capela de São Benedito, em 1911 – a procissão adentra à colônia e, em frente ao pequeno santuário, assiste à missa conduzida pelo pároco local.
Após a celebração, já por volta de uma da tarde, um novo café, devidamente abençoado pelo padre, é servido aos fiéis. Os quitutes foram carinhosamente preparados pela família do senhor Faria no dia anterior, dentre eles bolos, biscoitos e uma bolachinha chamada “bororoca”, receita passada de geração em geração, desde a bisavó Mamedes.
Os alimentos são feitos com doações arrecadadas na própria comunidade, como deve ser numa festa de santo, e assados em fornos de tijolo e barro, que também remetem aos tempos do casal fundador da colônia. Tanto os preparativos quanto a Festa de São Benedito foram registrados pelas equipes das secretarias municipais da Educação e da Cultura de Ribeirão Preto, com a colaboração de voluntários.
O registro histórico de celebração como patrimônio imaterial de nossa região será utilizado para a composição do arquivo de informações sobre Diversidade Étnico-Racial e Cultural, bem como para a elaboração de cursos de formação para professores da rede municipal de ensino.
Ludson Aiello