Novo dono da plataforma terá de lidar com cultura de moderação de conteúdo que reflete as prioridades ditas progressistas
Cifras e memes à parte, a chegada de Elon Musk ao controle do Twitter estimulou a reflexão sobre o papel do bilionário no debate sobre liberdade de expressão no mundo da tecnologia. Mais do que isso, uma das missões na nova empreitada do dono da Tesla vai ser enfrentar um modelo de exposição de ideias em massa que contempla uma visão à esquerda de mundo.
Esse é o tom de um artigo do Wall Street Journal desta semana, com o título “Elon Musk Can Fix Twitter Culture” (Elon Musk pode consertar a cultura do Twitter, em tradução livre). O texto é assinado pelo colunista Holman W. Jenkins Jr.
Perfis ligados ao conservadorismo afirmaram durante a semana que suas contas receberam uma nova e inesperada leva de seguidores, a partir do anúncio da compra de Musk. Já publicações de imprensa mais próximas à esquerda alertaram para o risco de o novo proprietário ser condescendente com ‘discurso de ódio’. No Brasil, um meio de comunicação, inclusive, publicou aos leitores incomodados um tutorial sobre como encerrar o vínculo com a rede social. Já nos Estados Unidos, a senadora democrata Elizabeth Warren falou em ‘perigo para a democracia’.
“Em mãos privadas, no entanto, Musk pode fazer coisas difíceis de fazer em uma empresa pública. O que é isso no caso do Twitter? Uma pesquisa do Pew descobriu que a plataforma é desproporcionalmente inclinada para os progressistas, que representam ‘69% dos usuários altamente atuantes’. Isso pode não ser um problema, mas aponta para uma questão: a moderação de conteúdo do Twitter reflete de forma esmagadora, quase completamente, as prioridades da esquerda”, escreve Holman W. Jenkins Jr., em seu artigo no Wall Street Journal.
“Este é um atoleiro institucional para o qual a gestão existente foi sugada e foi incapaz de corrigir ou talvez até mesmo de ver claramente. Exemplo: uma decisão da semana passada banindo anúncios que não afirmem o ‘consenso’ do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU.”
Segundo o articulista, o favorecimento de grandes corporações a agendas de esquerda nos últimos anos se deveu nem tanto à ideologia pura, mas sim ao desenvolvimento de um sistema de intimidação e patrulha em torno dessas empresas.
“A contribuição real de Musk pode se tornar um movimento único para aliviar o Twitter de seu tolo compromisso excessivo com a política da esquerda — um compromisso excessivo que caracterizou muitas instituições da sociedade ultimamente, e não por convicção. A razão é medo e intimidação.”
Segundo o colunista, o debate sobre desinformação precisa que setores progressistas aceitem lidar com temas desconfortáveis, e não simplesmente que desejem exterminá-los dos campos de enfrentamento. Jenkins Jr. cita como exemplo a investigação sobre a ligação do filho do presidente Joe Biden com negócios obscuros na Ucrânia, em caso contornado por parte da mídia nos EUA.
Musk não pode consertar a cultura sozinho e, no Twitter, terá mais missões do que apenas revitalizar os padrões de liberdade de expressão na internet. Os acionistas da plataforma, pelo menos, vão estar mais interessados no azul dos balanços financeiros trimestrais, e menos na cor do passarinho que simboliza a empresa.
Mesmo assim, a fortuna, estimada em US$ 219 bilhões, deve oferecer algum fôlego a Musk na tarefa de deixar o jogo mais justo para espectros ideológicos diferentes, mesmo que isso não esteja atrelado a lucros. O próprio empresário deu um sinal disso nesta semana ao publicar uma charge em que sugere que a guinada truculenta da esquerda o aproximou da direita nos últimos tempos.