📰 Vereadores votam projeto com cães e gatos terapêuticos, mas esquecem que falta atendimento psiquiátrico e estrutura básica em Ribeirão Preto

O projeto tem boas intenções — propõe atividades integradas com animais, campanhas de conscientização e parcerias com ONGs e centros especializados. Porém, especialistas e usuários da rede pública alertam que o problema real é a falta de estrutura e vagas para atendimentos urgentes.

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Toda iniciativa voltada ao bem deve ser aplaudida, mas há uma dura verdade que os vereadores de Ribeirão Preto parecem ignorar: enquanto discutem projetos simbólicos, o número de pessoas com depressão aumentou 50% na cidade — e a estrutura pública de saúde mental continua a mesma herdada de gestões anteriores.

Nesta segunda-feira (06), durante a 65ª Sessão Ordinária, a Câmara vota o Projeto de Lei nº 383/2025, de autoria do vereador Rangel Scandiuzzi (PSD), que cria o Programa de Atenção e Prevenção ao Suicídio com o uso de animais terapêuticos. O texto prevê o uso de cães e outros animais em terapias assistidas, com o objetivo de promover o bem-estar emocional, especialmente para pessoas em risco de suicídio.

O projeto tem boas intenções — propõe atividades integradas com animais, campanhas de conscientização e parcerias com ONGs e centros especializados. Porém, especialistas e usuários da rede pública alertam que o problema real é a falta de estrutura e vagas para atendimentos urgentes.

Os profissionais da saúde mental em Ribeirão Preto são reconhecidos pela dedicação, mas trabalham com equipamentos precários, falta de leitos e ausência de equipes multidisciplinares completas. A população enfrenta esperas de meses para uma consulta psiquiátrica e, em casos graves, pessoas acabam caindo no desespero, muitas vezes resultando em autoextermínio.

A situação é agravada pelo crescimento populacional — já são mais de 700 mil habitantes, e a rede de atenção psicossocial continua operando com o mesmo número de CAPS, equipes e estruturas de mais de uma década atrás.

A negligência se repete em outras áreas sensíveis, como o acolhimento de idosos, que seguem sem casas de longa permanência públicas, empurrando famílias à exaustão e idosos ao abandono.

Enquanto isso, projetos como o uso de animais terapêuticos — apesar de bonitos no papel — acabam servindo mais como marketing político do que solução efetiva para uma crise de saúde mental que se agrava a cada mês.

💬 “A população precisa de atendimento, não de discursos. Faltam psiquiatras, psicólogos e leitos. A terapia com animais é complementar, não substitui o básico”, comentou um servidor da saúde ouvido pela reportagem.

👉 O ideal seria que a Câmara e a Prefeitura tratassem a saúde mental como prioridade real, com ampliação imediata de atendimentos de urgência, reforço de equipes e criação de um plano municipal de prevenção ao suicídio baseado em dados e ações concretas.

🐾 Projetos simbólicos são bem-vindos, mas só terão sentido quando a cidade parar de ignorar a dor invisível que atinge milhares de ribeirão-pretanos.

✝️ JORNALISTA AIELLO
Especialista da área da matéria do portal em Ribeirão, o único portal independente da região que não recebe verbas públicas.

💡 Motivação: “A verdadeira compaixão não está em discursos, mas em ações que salvam vidas.”