De acordo com o último censo apresentado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui mais de 45 milhões de pessoas com deficiência (PCDs), o que representa cerca de 24% da população. Porém, no mundo do trabalho, somam apenas 0,9% do total de carteiras assinadas. Mas, essa realidade deveria ser diferente, segundo aponta Eliana Gentil, coordenadora da área de desenvolvimento social do Senac Ribeirão Preto.
Para a profissional, a grande importância de inserir pessoas com deficiência no universo corporativo é auxiliar o desenvolvimento humano. “É preciso promover a realização profissional desses jovens. Fomentar a capacidade de gestão da própria vida, com o estabelecimento de relações em diferentes ambientes, a socialização, além da responsabilidade e do respeito. A empresa que acolhe, se adapta e entende a inclusão só tem a ganhar em conceito, processos e resultados”, diz.
Foi o que aconteceu com Andrelina Costa Cruz, de 24 anos. Ao participar do Programa Educação para o Trabalho – trampolim do Senac, que promove a inclusão de jovens e adultos com deficiência intelectual no mundo corporativo, a estudante foi estimulada a ingressar no mercado profissional e ter autonomia na vida pessoal.
A mãe da jovem, Tereza Cristina Costa, conta que tinha medo de ‘soltar’ a filha para trabalhar, “mas, com o curso e a oportunidade de inserção profissional, Andrelina desenvolveu muitas habilidades, conquistou independência e interesse em fazer diversas atividades diárias; hoje, já pega ônibus sozinha, vai ao mercado, à farmácia e está aguardando o resultado de uma entrevista de emprego”.
Na vida pessoal, outras conquistas somaram-se às aptidões aprimoradas durante as aulas, a exemplo da autoestima e autonomia. Ainda, a jovem foi instigada a traçar um objetivo profissional. “Pretendo me graduar em pedagogia para poder ensinar crianças, porque eu adoro elas. Por enquanto, estou na expectativa da vaga de emprego, como assistente de secretária, para poder ingressar na faculdade”, conta Andrelina.
Outro bom exemplo de profissional que trilha uma carreira de conquistas é o de João Victor Tavares de Almeida, que há três meses conquistou a vaga como aprendiz no Senac Ribeirão Preto. Ele participou do processo seletivo e é o primeiro aluno do Programa Educação para o Trabalho – trampolim a trabalhar na unidade. João Victor, de 20 anos, concluiu o curso em novembro deste ano e já comemora as conquistas pessoais e profissionais. “Estou com mais autonomia, interesse pelas coisas e mais extrovertido. Além disso, conheci minha namorada durante as aulas. Estou motivado a continuar trabalhando para conquistar o meu principal objetivo, que é abrir a minha própria mecânica.”
Uma das pessoas responsáveis pelas conquistas desses jovens é Mayra Ribeiro de Oliveira, docente do curso e que possui deficiência visual. Ela diz que trabalhar com esses alunos é ter momentos de muita empatia e, também, de desafios. “Sinto-me muito próxima deles e quando eles veem que estou na sala de aula e trabalhando, assumem que também conseguem ir para o mercado profissional.”
No dia a dia, a docente ainda consegue promover outros ensinamentos para os alunos: “Consigo ajudá-los de maneiras diversas, com mobilidade, confiança e trazendo uma realidade diferente daquela que estão acostumados, é uma troca”, conta Mayra.
Por outro lado, Mayra ressalta que ainda há necessidade de ensinar a sociedade a receber as pessoas com deficiência no mundo do trabalho. “Elas precisam ser tratadas como iguais, todos têm dificuldade e é preciso saber lidar com elas.” Para as empresas, a profissional lembra que é preciso uma preparação. As companhias devem compreender as dificuldades das pessoas com deficiência, ter acessibilidade e boa receptividade.
Programa Educação para o Trabalho – trampolim
A educação inclusiva é uma aliada para inserir jovens no mundo do trabalho. No Programa Educação para o Trabalho – trampolim, os alunos são estimulados em diversos níveis para conquistar vagas diversas no mercado. Motricidade, convívio social, atitude empreendedora e sustentável, responsabilidade, ética e comunicação por meio do letramento são algumas das práticas vivenciadas dentro e fora da sala aula do Senac.
Totalmente gratuito, o curso tem aulas expositivas e práticas de segunda a sexta-feira. Para a matrícula, o jovem deve estar vinculado a uma instituição especializada no atendimento a pessoas com deficiência intelectual e que seja parceira do Senac.
O programa conta com um eixo de integração, outro de tecnologia e letramento e sete instrumentais (desenvolvimento humano e pessoal, comunicação, atitude empreendedora, sistemas e processos organizacionais, atendimento ao cliente e visitas técnicas). Durante as aulas, os participantes ainda realizam três planos de trabalho: plano de ação na comunidade, plano profissional e projeto coletivo.
Além do Programa Educação para o Trabalho – trampolim, o Senac São Paulo desenvolve o Programa de Inclusão de Pessoas com Deficiência desde 2002, com a missão de proporcionar o desenvolvimento de alunos por meio da educação profissional, disponibilizar recursos aos funcionários com deficiência para que possam desempenhar o trabalho na plenitude de suas potencialidades e disseminar a cultura inclusiva.
Como resultado dessa prática, em 2018, a instituição conquistou o 2º lugar na edição anual do prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência, promovido pela Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, em parceria com o Centro de Tecnologia e Inclusão.
Serviço:
Senac Ribeirão Preto
Endereço: Avenida Capitão Salomão, 2133 – Jardim Mosteiro – Ribeirão Preto/SP
Informações: www.sp.senac.br/ribeiraopreto