Precisamos de um Dia da Consciência Negra ou Deveríamos Ter Consciência Humana?

Como disse Martin Luther King: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar.” Que essa frase nos guie na construção de um país verdadeiramente inclusivo.

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Em um país que celebra datas para conscientização, como o Dia da Consciência Negra, surge uma reflexão profunda: estamos realmente engajados na construção de uma sociedade mais igualitária ou apenas perpetuamos discursos vazios? Ao analisarmos diversos grupos sociais marginalizados, percebemos que o problema vai além da consciência racial: falta-nos uma consciência humana.

Indígenas: Donos Originários Sem Terra

A população indígena, guardiã ancestral do território brasileiro, continua enfrentando a perda de suas terras para mineradoras e agroindústrias, sendo condenada a viver na miséria. Muitos não têm sequer acesso a banheiros ou água potável, enquanto sua cultura é ignorada ou vilipendiada. Essa negligência é um reflexo de uma sociedade que prioriza o lucro sobre o direito à vida e à dignidade.

Pessoas com Deficiência: Invisíveis na Inclusão

Apesar das leis que garantem acessibilidade e inclusão, a realidade das pessoas com deficiência é marcada por barreiras arquitetônicas e sociais. Elas encontram dificuldades para acessar escolas, transporte público e o mercado de trabalho. Como celebrar a igualdade quando tantos ainda vivem como cidadãos de segunda classe?

Moradores de Rua: Excluídos da Sociedade

Sem teto, sem segurança e sem esperança. Os moradores de rua são frequentemente tratados como problemas a serem removidos das vistas, em vez de pessoas que precisam de políticas públicas efetivas. Em muitos casos, a ausência de programas habitacionais transforma esses indivíduos em sombras da sociedade, invisíveis para o poder público e para nós.

Trabalhadores Informais: A Base Esquecida da Economia

Enquanto sustentam a economia com sua força de trabalho, trabalhadores informais vivem sem direitos básicos, como aposentadoria, seguro-desemprego ou licença médica. Vulneráveis às crises econômicas, são os primeiros a sofrer nas recessões e os últimos a receber apoio.

Jovens da Periferia: Estigmatizados e Excluídos

Jovens das periferias enfrentam o preconceito e a criminalização pela cor da pele, pelo CEP onde moram e pela condição social. Muitos são privados de oportunidades educacionais e de trabalho que poderiam quebrar o ciclo de pobreza. Ao rotulá-los como ameaças, negamos seu potencial e reforçamos uma exclusão que atravessa gerações.

Comunidades Tradicionais: Guardiãs do Meio Ambiente Ignoradas

Quilombolas, ribeirinhos e seringueiros, que preservam tradições culturais e ambientais, vivem isolados e desprotegidos. Conflitos com fazendeiros e grandes empresas são comuns, enquanto o governo fecha os olhos para sua luta pela terra e pela sobrevivência. Essas comunidades são essenciais para a biodiversidade, mas são tratadas como obstáculos ao “progresso”.

Povos Ciganos: Uma Cultura Marginalizada

O preconceito contra os ciganos é secular e enraizado. Sem políticas públicas que respeitem seu modo de vida, são forçados a viver à margem, enfrentando discriminação cultural e social. A invisibilidade institucional perpetua a exclusão de um povo que só busca viver de acordo com suas tradições.

Pessoas com Transtornos Mentais: Sofrimento Silencioso

Aqueles que enfrentam transtornos mentais, como depressão, vivem um duplo peso: o da doença e o do preconceito. A falta de investimentos em saúde mental transforma uma condição tratável em um fardo insuportável. Sem acesso a tratamento adequado, muitos são excluídos dos espaços de convivência e do mercado de trabalho.

Fila do SUS: A Espera Pela Vida

As filas intermináveis do Sistema Único de Saúde (SUS) representam uma sentença de morte para milhões de brasileiros. Pessoas aguardam anos por consultas e cirurgias enquanto suas condições se agravam. Essa realidade expõe a falência de um sistema de saúde que deveria garantir dignidade e igualdade no acesso aos cuidados.

Os grupos prioritários, como idosos e pessoas com doenças graves, também são negligenciados. Mesmo com leis que garantem prioridade, enfrentam a mesma burocracia que condena os demais. Essa tragédia humanitária escancara a desigualdade no acesso à saúde pública.

Idosos Sem Emprego e Sem Aposentadoria

A reforma previdenciária empurrou milhões de idosos para a pobreza. Sem idade para se aposentar e sem oportunidade no mercado de trabalho, eles vivem sem perspectivas, enfrentando a invisibilidade de uma sociedade que não valoriza a experiência e a sabedoria.

Desigualdade na Justiça: Influentes e Invisíveis

Enquanto processos de figuras públicas recebem atenção e celeridade, os casos da população comum são arquivados sem solução. Essa seletividade na justiça aprofunda a sensação de abandono e revolta. Para muitos, a justiça brasileira é um privilégio, não um direito.


De Consciência Negra à Consciência Humana

O Dia da Consciência Negra é crucial para destacar a luta contra o racismo e celebrar a história e a resistência do povo negro. No entanto, ele deve ser um ponto de partida para uma reflexão maior sobre as desigualdades que permeiam nossa sociedade.

A realidade é que muitos outros grupos marginalizados enfrentam lutas semelhantes. Não se trata de substituir datas ou de relativizar a importância de uma causa em detrimento de outra, mas de ampliar nossa visão sobre o que significa ser humano em uma sociedade tão desigual.

Como podemos evoluir se continuamos ignorando as vozes dos que mais precisam? A verdadeira consciência humana exige que nos posicionemos contra todas as formas de injustiça, independentemente de quem seja o alvo.


Um Chamado à Ação

Chegou a hora de olharmos para além de discursos e datas comemorativas. É urgente demandar:

  1. Políticas públicas inclusivas que atendam as necessidades de todos os grupos marginalizados.
  2. Investimentos em saúde, educação e moradia para garantir dignidade a todos os cidadãos.
  3. Justiça igualitária, sem privilégios ou favoritismos.
  4. Combate ao preconceito e à discriminação, seja racial, cultural ou social.
  5. Empatia e solidariedade, para enxergar o outro como igual.

Que o Dia da Consciência Negra inspire a luta por uma sociedade mais justa para negros, indígenas, deficientes, trabalhadores, jovens, ciganos, e todos aqueles que sofrem na invisibilidade. O Brasil não precisa apenas de consciência negra, mas de consciência humana.

Como disse Martin Luther King: “A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar.” Que essa frase nos guie na construção de um país verdadeiramente inclusivo.

JORNALISTA AIELLO
Especialista da área da matéria do portal em Ribeirão, o único portal independente da região que não recebe verbas públicas.