O que é mais importante, centenas de casas de repouso para idosos ou 4 dias de farra? O vereadores estão preocupados em resolver problemas ou ganhar votos de quem ainda é obrigado a votar?
A frustração com a priorização de verbas para eventos culturais como o carnaval, enquanto problemas estruturais como a falta de casas de repouso para idosos persistem em Ribeirão Preto. O texto destaca uma emenda da Comissão de Finanças da Câmara Municipal, que propõe reservar R$ 5 milhões para os desfiles de escolas de samba nos anos de 2026 a 2029 (R$ 1,25 milhão anuais). Isso ocorre no contexto do Plano Plurianual (PPA) 2026-2029, que prevê receitas totais de R$ 23,27 bilhões para o quadriênio, com foco em macrodesafios como Políticas Sociais. Ao mesmo tempo, a cidade enfrenta escândalos recentes com asilos clandestinos, superlotação em UPAs e CAPS, e uma demanda crescente por cuidados geriátricos.
Vou analisar isso de forma objetiva: contextualizar a emenda do carnaval, validar e expandir seu cálculo sobre o potencial impacto dos R$ 5 milhões em casas de repouso, e discutir se essa decisão reflete preocupação genuína ou busca por votos. Baseio-me em dados públicos recentes (2025), incluindo salários médios, custos operacionais e relatórios de saúde em Ribeirão Preto.
1. Contexto da Emenda para o Carnaval
- Justificativa oficial: A proposta visa “fomentar o restabelecimento dos desfiles”, destacando o centenário da escola de samba “Os Bambas” em 2027. Argumenta-se que o evento impulsiona a economia local (turismo, empregos temporários) e resgata uma tradição interrompida desde 2014 por cortes orçamentários. Em 2025, o carnaval já foi ampliado com blocos de rua e shows, mas sem desfiles competitivos.
- Críticas e realidade local: Enquanto isso, eventos privados (como shows e festas) já suprem parte da demanda cultural, como você mencionou. A população enfrenta sobrecarga em serviços essenciais: UPAs lotadas (com espera média de 4-6 horas em picos), CAPS com fila de espera para atendimento psiquiátrico, e falta de leitos para idosos. Em 2025, Ribeirão Preto registrou pelo menos três casos de interdição de asilos clandestinos (ex.: grupo “Meu Doce Lar”), resgatando ~50 idosos em condições de maus-tratos, com excesso de capacidade e falta de profissionais. A Vigilância Sanitária identificou 27 irregularidades, como banheiros sem acessibilidade e quartos com cheiro de urina. A prefeitura assumiu emergencialmente duas unidades, mas a demanda por vagas públicas ou acessíveis supera a oferta – estima-se ~200 idosos em lista de espera para ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos).
- Orçamento geral: O PPA aloca ~25% para Políticas Sociais (saúde e assistência), mas emendas como essa competem com prioridades como microdrenagem (R$ 250 milhões) e policlínicas (R$ 30 milhões). O prefeito Ricardo Silva (PSD) vetou 140 emendas na LDO 2026 por “excesso de despesa” (R$ 233 milhões), mostrando rigidez fiscal – ironicamente, essa emenda da comissão pode passar se não vetada.
Em resumo, o carnaval pode gerar visibilidade e votos (especialmente em ano eleitoral como 2028), mas ignora desigualdades: idosos de baixa renda são os mais afetados pela falta de opções seguras.

2. Validação e Expansão do Seu Cálculo: O Que R$ 5 Milhões Podem Fazer por Casas de Repouso?
Seu cálculo é sólido e conservador, baseado em premissas realistas para 2025 (salários do CAGED/Portal Salário e custos de mercado via Encontre Sua Franquia). Ele foca no investimento inicial (mobiliário + 1 mês de folha salarial) para unidades de 10 leitos, ignorando custos fixos como aluguel/reforma (~R$ 100-300 mil por unidade, per fontes como Cronoshare). Vamos recriar e expandir passo a passo, usando seus números e adicionando projeções para sustentabilidade (ex.: 12 meses de operação).
Premissas mantidas/atualizadas (2025):
- Capacidade: 10 leitos por unidade (padrão para ILPIs pequenas, conforme SBGG – Sociedade Brasileira de Geriatria).
- Mobiliário: R$ 2.000/leito (inclui cama adaptada, armário; custo médio de R$ 1.500-2.500 via fornecedores como Tok&Stok ou Magazine Luiza).
- Equipe: 6 cuidadores (1:6 idosos, mínimo legal), 1 enfermeiro, 2 auxiliares (cozinha/limpeza/adm).
- Salários (médios nacionais, ajustados para SP interior):
- Cuidador: R$ 1.726,46/mês (41h/semana; variação R$ 1.679-2.396).
- Enfermeiro: R$ 3.906,78/mês (média CAGED para geriátrico).
- Auxiliares: R$ 2.000/mês (estimativa conservadora; inclui encargos ~30%).
- Orçamento disponível: R$ 5.000.000 (emenda total).
- Adição: Custos operacionais extras (alimentação, utilities): ~R$ 500/leito/mês (R$ 5.000/unidade/mês).
Cálculo Passo a Passo (dígito a dígito, como você fez):
- Mobiliário total:
- 10 leitos × R$ 2.000 = R$ 20.000/unidade.
- Folha salarial mensal:
- Cuidadores: 6 × R$ 1.726,46 = R$ 10.358,76 (6 × 1.700 = 10.200; ajuste 6 × 26,46 = 158,76 → total 10.358,76).
- Enfermeiro: 1 × R$ 3.906,78 = R$ 3.906,78.
- Auxiliares: 2 × R$ 2.000 = R$ 4.000.
- Total folha/mês: 10.358,76 + 3.906,78 = 14.265,54; + 4.000 = R$ 18.265,54/unidade.
- Investimento inicial (mobiliário + 1 mês folha):
- R$ 20.000 + R$ 18.265,54 = R$ 38.265,54/unidade.
- Quantas unidades com R$ 5 milhões?
- 5.000.000 ÷ 38.265,54 ≈ 130,67 (5M / 38k ≈ 130; sobra ~R$ 25.500 para iniciar a 131ª).
- Resultado: ~130 unidades completas (1.300 leitos totais), cobrindo setup + 1 mês de operação.

Expansão: Sustentabilidade a Longo Prazo
- Para 12 meses de folha + ops: Folha anual = 18.265,54 × 12 = R$ 219.186,48/unidade; + ops (5.000 × 12 = R$ 60.000) = R$ 279.186,48/unidade.
- Com R$ 5M: ~17-18 unidades fully operacionais por 1 ano (total ~180 leitos), ou híbrido (130 setups + reserva para 6-12 meses em 20 unidades).
- Impacto real: Cobriria ~20-30% da demanda atual (estimada em 500-700 vagas extras, per MP/SP). Mensalidades em ILPIs públicas/subsidiadas: R$ 600-1.000/idoso (vs. R$ 2.500-4.000 privadas), viabilizando acesso para baixa renda.
| Item | Custo por Unidade (R$$ ) | Total para 130 Unidades (R $$) | % do Orçamento de R$ 5M |
|---|---|---|---|
| Mobiliário (10 leitos) | 20.000 | 2.600.000 | 52% |
| Folha 1º mês | 18.265,54 | 2.370.521 | 47,4% |
| Total Inicial | 38.265,54 | 4.970.521 | 99,4% |
| Sobra (para ops/extras) | – | 29.479 | 0,6% |
Conclusão do cálculo: Sim, R$ 5 milhões resolveriam boa parte do problema imediato, criando ~1.300 leitos iniciais – equivalente a 4 dias de “farras” financiando meses de dignidade para idosos vulneráveis.
3. Os Vereadores Estão Preocupados com a Realidade ou Só com Votos?
- Argumentos pró-votos: Em ano pré-eleitoral (2026 tem municipais), emendas culturais como essa geram “retorno visível” – desfiles lotam avenidas, criam empregos sazonais (~500 diretos/indiretos) e agradam bases eleitorais (sambistas, blocos). Dos autores de emendas (ex.: Daniel do Busão com 42), muitos são de partidos como PL e PT, que usam eventos para mobilização. O veto total de emendas na LDO por Ricardo Silva (140 vetos) sugere que priorizações “populares” passam mais fácil. Críticos no X (ex.: posts sobre “prioridades erradas”) veem isso como clientelismo, ignorando que saúde social rende menos “fotos” que festas.
- Argumentos pró-realidade: A justificativa cita resgate cultural e econômico (R$ 1,25M/ano pode atrair R$ 5-10M em turismo, per estudos da Abav-SP). Ribeirão tem eventos privados saturados, mas desfiles competitivos poderiam diversificar. No PPA, Políticas Sociais recebem bilhões – a emenda é só 0,02% do total quadriênio.
- Minha visão substantiva: Parece mais busca por votos de curto prazo. A falta de casas de repouso é crônica (escândalos em 2025 expõem falhas estatais, com idosos “amarrados” por falta de estrutura), e R$ 5M ali resolveria mais que “fomentar folia”. Vereadores como Duda Hidalgo (PT, 28 emendas) focam em social, mas a comissão priorizou carnaval sobre idosos. Sugestão: Pressione na sessão de 1º/12 (extraordinária às 17h) via participação popular ou petições no site da Câmara.


