A possibilidade de adoção de um modelo que flexibiliza a validade dos alimentos para reduzir preços causou indignação e revolta nas redes sociais. Críticos apontam para o risco de transformar os mais pobres em consumidores de produtos que já ultrapassaram sua data de validade. Seria essa mais uma política populista que sacrifica a dignidade em nome de promessas impossíveis de cumprir?

O CONTEXTO DA PROPOSTA
A medida, apresentada pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) ao governo, sugere a troca do modelo atual de data de validade pelo sistema “best before” (consumir preferencialmente antes de), amplamente adotado em países desenvolvidos. Essa proposta permitiria a comercialização de alimentos após a perda de frescor ou nutrientes, mas ainda seguros para consumo.
Embora o ministro Rui Costa tenha afirmado que “não haverá intervenção” e sim “medidas para baratear os alimentos”, o ruído nas declarações gerou insegurança. A oposição não perdeu tempo e aproveitou o deslize: o deputado Nikolas Ferreira ironizou a ideia, comparando a promessa da “picanha” à possibilidade de se comer comida vencida.
A POLÊMICA DA VALIDADE
Se adotada, a mudança exigiria alterações legais e regulatórias pela Anvisa e pelo Congresso Nacional. Segundo a Abras, isso reduziria o desperdício e economizaria até R$ 3 bilhões. No entanto, críticos questionam se o real objetivo é atender aos interesses do setor varejista, sem considerar o impacto para o consumidor final.
Para muitos, a sugestão reflete a falta de um plano claro do governo para conter a alta nos preços dos alimentos. O presidente Lula, em reunião ministerial, cobrou medidas concretas para enfrentar o problema, mas ministros foram pegos de surpresa, recorrendo às ideias do setor privado para responder às críticas.
UMA POLÍTICA SEM ESTRATÉGIA
Enquanto o governo promete “medidas” e descarta intervenções, segue sem apresentar soluções efetivas. Algumas propostas incluem:
- Trabalhar nos preços mínimos agrícolas por meio do Conselho Monetário Nacional (CMN);
- Melhorar estoques reguladores para estabilizar preços;
- Reduzir custos financeiros associados à produção e distribuição de alimentos.
UMA OFENSA AO POVO BRASILEIRO
A proposta de alimentos vencidos é mais um capítulo de humilhação para os mais pobres, que já sofrem com a inflação dos alimentos. Em vez de discutir políticas estruturais, como incentivo à produção e redução de tributos sobre a cesta básica, o governo prefere soluções paliativas e potencialmente perigosas.
Essa postura evidencia uma desconexão com a realidade de milhões de brasileiros que lutam para garantir uma alimentação digna. Enquanto isso, promessas de campanha, como a “picanha na mesa”, tornam-se alvo de chacota.
REFLEXÃO FINAL
Em um país onde a fome ainda é uma realidade para muitos, permitir que alimentos vencidos sejam comercializados soa como mais uma política de desesperança. Reduzir preços não pode significar sacrificar a saúde e a dignidade da população. É hora de priorizar soluções reais, que respeitem o povo brasileiro e combatam a desigualdade de forma efetiva.
JORNALISTA AIELLO
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