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O Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu o mercado ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, levando o índice básico de juros para 12,25% ao ano. A decisão, anunciada em meio a um cenário econômico desafiador tanto no Brasil quanto no exterior, reflete a necessidade de um aperto monetário mais agressivo para conter a persistente alta dos preços e estabilizar as expectativas de inflação.
Cenário internacional: desafios para os emergentes
O ambiente econômico global continua marcado por incertezas. A economia dos Estados Unidos, com sinais de resiliência e um mercado de trabalho aquecido, tem ditado uma postura mais conservadora do Federal Reserve, o banco central americano. Isso afeta diretamente economias emergentes como o Brasil, exigindo maior cautela no manejo das políticas monetárias.
Os bancos centrais das maiores economias seguem determinados a conter a inflação, enquanto enfrentam pressão sobre os mercados de trabalho. Esse cenário externo, mais instável, impõe desafios adicionais para países como o Brasil, que precisam administrar as oscilações cambiais e os impactos sobre suas economias internas.
Cenário doméstico: inflação resistente e atividade aquecida
No Brasil, o dinamismo da atividade econômica, impulsionado pelo crescimento do PIB no terceiro trimestre e pela abertura do hiato do produto, adiciona pressão inflacionária. A inflação medida pelas expectativas para 2024 e 2025, conforme a pesquisa Focus, subiu para 4,8% e 4,6%, respectivamente, valores acima das metas estipuladas pelo Banco Central.
O Copom destacou preocupações com os impactos da política fiscal recente, que elevou o prêmio de risco e aumentou as expectativas de inflação. A volatilidade cambial, decorrente da percepção negativa dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, também foi apontada como fator de pressão inflacionária.
Motivos para a decisão do Copom
A elevação da Selic foi motivada por:
- Desancoragem das expectativas de inflação: Indicativos de inflação acima da meta e resiliência no setor de serviços.
- Riscos externos: Alta dos preços globais e incertezas econômicas nos EUA.
- Política fiscal: Impacto negativo das decisões fiscais no mercado financeiro e no câmbio.
Além disso, o Copom sinalizou que ajustes adicionais de mesma magnitude poderão ocorrer nas próximas reuniões, caso o cenário adverso se mantenha.
Impactos e perspectivas
O aumento da taxa de juros busca alinhar as expectativas inflacionárias e reforçar o compromisso do Banco Central com a meta de inflação. Contudo, essa política monetária mais contracionista pode desacelerar o consumo e os investimentos, afetando o crescimento econômico no curto prazo.
Tabela 1
Projeções de inflação no cenário de referência
Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres (%)
Índice de preços | 2024 | 2025 | 2º tri 2026 |
IPCA | 4,9 | 4,5 | 4,0 |
IPCA livres | 5,0 | 4,5 | 3,8 |
IPCA administrados | 4,6 | 4,5 | 4,6 |
No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$5,95/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.
“O aperto monetário é um remédio amargo, mas essencial para recolocar o Brasil no caminho da estabilidade econômica. A lição é clara: equilíbrio fiscal e responsabilidade são indispensáveis para prosperar.”
JORNALISTA AIELLO