Especialista da área da matéria do portal em Ribeirão, o único portal independente da região que não recebe verbas públicas.
Resumo:
- Pesquisa do Cebrap: Templos religiosos são mais numerosos proporcionalmente em favelas do que em outras áreas urbanas, em 25 das 27 capitais brasileiras.
- Realidade nas favelas: Porto Alegre lidera o ranking, com 2,7 templos por mil habitantes nas comunidades, enquanto São Paulo aparece em 25º lugar.
- Perfil das igrejas: A maioria são pequenas congregações evangélicas, que muitas vezes funcionam como centros de assistência social.
- Impacto social: Igrejas desempenham papel crucial onde o Estado falha, oferecendo apoio material e emocional a famílias vulneráveis.
Matéria completa:
Contrariando a ideia de que as igrejas estão focadas apenas em dízimos e ofertas, as favelas brasileiras têm uma concentração surpreendentemente maior de templos religiosos do que bairros mais centrais. Uma pesquisa realizada pelo Observatório da Religião e Interseccionalidades do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), com base no Censo 2022, comprova o que muitos moradores já percebem: o papel fundamental dos templos nas comunidades mais vulneráveis.
Em 25 das 27 capitais brasileiras, a proporção de espaços religiosos por mil habitantes é maior dentro das favelas do que fora delas. Porto Alegre lidera o ranking com 2,7 templos por mil habitantes nas comunidades, enquanto áreas não periféricas da cidade têm apenas 1,3. Florianópolis aparece em segundo lugar, enquanto São Paulo e Rio de Janeiro ocupam posições mais modestas, 25ª e 18ª respectivamente.
A fé nas favelas: suporte espiritual e social
Pastor Luiz Fernando Vieira de Lima, da Assembleia de Deus Gileade, no Parque Santo Antônio, zona sul de São Paulo, exemplifica a realidade desses espaços. Ele lidera uma congregação que enfrenta custos mensais de R$ 6.000, muitas vezes não cobertos pelo dízimo. “É muito dificultoso porque a maioria dos fiéis é assalariada. Mesmo assim, a igreja ajuda as pessoas a pagar contas de luz ou água”, relata.
Pequenas igrejas como a Gileade formam 71% da rede evangélica da capital paulista e têm como público majoritário mulheres negras de baixa renda. São os templos menores, e não as megaigrejas, que dominam o cenário evangélico brasileiro, revelando sua conexão direta com as comunidades.
Assistência onde o Estado não chega
A pesquisadora Renata Nagamine, do Núcleo de Religiões no Mundo Contemporâneo do Cebrap, destaca a relevância das igrejas em favelas. “Esses espaços oferecem redes de apoio, assistência e sociabilidade. Eles estruturam a cidadania onde o Estado falha.”
De doação de cestas básicas a cursos de formação, as igrejas frequentemente suprem lacunas deixadas pelo poder público. Isso não apenas fortalece os laços comunitários, mas reafirma a importância da religião como uma força transformadora nas periferias urbanas.
O avanço evangélico
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que, entre 1998 e 2021, o número de igrejas evangélicas no Brasil cresceu 228,5%. Dos templos religiosos identificados em 2021, 70% eram evangélicos, com predominância das pentecostais. Este crescimento é ainda mais visível em áreas como favelas, onde a informalidade também amplia a presença de igrejas sem CNPJ ou com estruturas improvisadas.
Fé e comunidade
Enquanto alguns criticam as igrejas pela dependência financeira dos fiéis, líderes religiosos enfatizam que os templos são mais do que locais de culto. São refúgios para quem busca esperança, apoio e orientação.
Frase de motivação:
“Mesmo nos becos mais sombrios da vida, a fé ilumina o caminho. A morte não é o fim, mas o começo de uma nova jornada.”
ASSINATURA: JORNALISTA AIELLO