“Daqui para frente, é fogo contra fogo”, diz coordenador do MST

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Esta quinta-feira (12) entrará para a história como um dia muito duro para os movimentos populares e para a história do país, afirmou o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Alexandre Conceição. Ele acompanhou o desdobramento do afastamento da presidenta Dilma Rousseff em Brasília. “Quebrou-se a democracia e rasgaram a constituinte“, disse. Conceição afirma, no entanto, que a história não repetirá o massacre ao povo – como o ocorrido no golpe militar em 1964 – pela resistência dos movimentos sociais e prometeu “muita luta”.

“Não estou dizendo que em 1964 não houve resistência. Mas hoje os movimentos estão mais amadurecidos e temos mais unidade. Vamos mudar essa página”,

garantiu.

Seguindo a linha dos movimentos populares que se posicionaram nesta quinta, o MST não reconhecerá o governo interino de Michel Temer e afirmou que fará uma

“oposição sistemática aos golpistas e às pauta que eles querem nos fazer empurrar goela abaixo, mas que já derrotamos em 2002 [ano da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva]”.

Segundo ele, no Brasil, nenhum candidato se elege para o poder executivo com um projeto como a Ponte para o Futuro.

Questionado sobre a nomeação dos ministros de Temer, em especial Osmar Terra [Desenvolvimento Social e Agrário] e Alexandre de Moraes [Justiça], o dirigente disse que o MST sempre condenou o governo de Dilma quanto a uma ruralista chefiar a pasta, em referencia a Kátia Abreu. Mas, quanto aos ministros do pemedebista, apontou para a ilegitimidade do governo interino e que qualquer avaliação deve partir desse pressuposto.

“É o ministério dos golpistas. Não vamos dialogar com esse ele, não temos nem o que achar desse ministério, que foi constituído para vender ao exterior nossas riquezas, o pré-sal, as terras indígenas… Não nos representa”,

denunciou.

Segundo ele, o movimento apoiará Dilma para reverter essa situação. “Não pela Dilma, mas pela institucionalidade, pela democracia”, afirmou.

“Brinco que o governo Dilma, para a reforma agrária, foi pior que a Coroa Portuguesa que distribuiu terra pela sistema sesmaria. Não houve em 2015 nenhum decreto de desapropriação e nossa base tem muito que reclamar desse governo, que foi ruim. Mas a quebra democrática mexe com outra coisa que é para além da nossa pauta. E não é porque um governo é ruim que ele tem que ser golpeado”,

disse Alexandre.

Alexandre afirma que os campos de esquerda saem mais fortalecidos a partir das experiências da Frente Brasil Popular e da Frente Povo Sem Medo, dizendo também que já nesta quinta (12), o movimento faria uma série de reuniões para alinhar uma agenda intensiva de lutas. Sobre o endurecimento do aparato de Estado e criminalização dos movimentos sociais, o dirigente avalia que “daqui pra frente é fogo contra fogo“. Para ele, o processo de imepachment é um “complô do poder judiciário, da midia e do parlamento”.

Laryssa Sampaio, militante do Levante Popular da Juventude, também acredita que não é completa derrota para o campo progressista. “Apesar do golpe, saímos com uma vitória pois abre-se um novo campo de luta”, disse.

“Os governos Lula e Dilma não contribuíram para o processo organizativo da juventude, no aumenta de consciência das massas. Há uma grande dificuldade de atrair os jovens para as ruas, mas, no último período, conseguimos conquistar alguns corações e mentes e conseguimos massificar os atos, atingindo diversos setores”,

disse.

Para ela, a votação pelo do impeachment na Câmara, no dia 17 de abril, escancarou os interesses que o Congresso Nacional representa e “abriram os olhos da população”.

Por isso, ela afirma que, apesar do golpe se consolidando, a esquerda reagirá. Ela afirmou que o coletivo planeja ações em 16 estados na sede do PMDB para denunciar o programa político de Temer, em ato símbolico pelo não reconhecimento do presidente interino. Para os próximos meses, ela afirma que o Levante se alinhará com as organizações da Frente Brasil Popular por entender a rede como um espaço de unidade de esquerda.

Laryssa critica que as propostas do plano de governo de Temer, como a extensão do Prouni (Programa Universidade para Todos) para o Ensino Médio, o que atingiria diretamente a juventude, porque “aumentaria a privatização e desvincularia a responsabilidade do governo pela Educação”. “O Temer, o PMDB e quem for compor esse governo trazem pautas conservadoras que estarão em desarmonia com os avanços da sociedade e da juventude nos últimos anos”, finalizou.

Veja como os movimentos populares se posicionaram nesta Sexta-feira (13) em suas notas oficiais:

Frente Brasil Popular (FBP) e Frente Povo Sem Medo (FPSM)

“A maioria do Senado Federal, ao aprovar a admissão do processo de impeachment contra a presidente da República, capitulou diante do golpe das oligarquias contra a Constituição, tornando-se cúmplice de flagrante ruptura da ordem democrática. (…)

As intenções dos golpistas estão declaradas a céu aberto: arrochar salários, acabar com a política de valorização do salário mínimo, cortar gastos com programas sociais, eliminar direitos civis, privatizar empresas estatais, reduzir investimentos públicos, anular despesas constitucionais obrigatórias com saúde e educação, abdicar da soberania nacional diante dos centros imperialistas. (…)

A Frente Brasil Popular e a Frente Povo sem Medo conclamam os trabalhadores da cidade e do campo, os intelectuais e artistas comprometidos com a liberdade, a juventude e as mulheres a rechaçar, em todos os locais de estudo, trabalho e moradia, este atentado contra a democracia. Estaremos todos unidos sob a palavra de ordem “Fora Temer”: somente haverá paz quando o governo for restituído a quem recebeu mandato constitucional consagrado pelas urnas.”

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)

“Temos certeza, como afirma o texto do processo, que a Presidenta não cometeu nenhum crime com as pedaladas fiscais. Se assim fosse, o processo deveria atingir também o vice que ora assume, Michel Temer, e o senador Anastasia, ex-governador de Minas. Esse é um golpe institucional e anti-democrático, que desrespeitou a vontade de 54 milhões de eleitores e foi orquestrado pelos setores mais conservadores da sociedade (…)

A “Ponte para a recessão” do golpista Michel Temer só levará a acentuação da crise social e econômica e ampliará a instabilidade política do país.O novo governo que se anuncia, por seu histórico, tampouco representa ruptura com os métodos corruptos, que todos denunciamos nas ruas. (…)

Em relação à crise política instaurada, defendemos com os demais movimentos populares, que somente uma reforma política profunda, que devolva ao povo o direito de escolher seus representantes legítimos, pode ser uma saída verdadeira. (…)

O MST permanecerá mobilizado em defesa da democracia e dos direitos sociais, ao lado da Frente Brasil Popular e dos milhares de trabalhadores e trabalhadoras que não aceitarão o golpe. Seguiremos sempre em luta, contra o latifúndio e o agronegócio, pela reforma agrária popular e pelo direito constitucional de todos os trabalhadores rurais terem terra e vida digna no campo.”

União Nacional dos Estudantes (UNE)

“[o afastamento da presidenta da República] é o movimento para remover, sob quaisquer condições, um projeto popular e progressista de desenvolvimento que passou a priorizar as camadas historicamente excluídas das políticas públicas nacionais. (…)

Enganam-se, no entanto, aqueles que imaginam que os movimentos populares e democráticos da sociedade brasileira assistirão com passividade ao teatro detestável de conspiradores e saqueadores da ordem democrática. A União Nacional dos Estudantes, representante dos milhões de universitários e universitárias do país e uma das mais antigas instituições da vida pública nacional anuncia que não reconhecerá o governo de Michel Temer. (…)

Não haverá, portanto, um minuto sequer de trégua concedido aos inimigos do povo. Estaremos nas ruas, nas universidades, nas redes sociais, em todos os espaços alcançáveis em que possamos deixar a denúncia da grave lesão sofrida pelo país. (…)

Somos hoje jovens de todas as origens, estudantes filhos das famílias ricas ou da periferia que chegaram à universidade por meio do avanço dos programas sociais, do Prouni e do Fies, da reserva de vagas, da expansão do ensino superior. Representamos a transformação de um país que não aceitará retrocessos. (…)

Preparem-se golpistas. Aqui está presente o movimento estudantil. O Brasil não anoitecerá mais uma vez.”

Central Única dos Trabalhadores (CUT)

“Isto é golpe.

Ao dar continuidade ao ritual prescrito pelo poder judiciário os senadores, entre os quais vários estão sendo investigados sob a suspeição de crime, condenam uma inocente. Isto é inaceitável e mancha, de forma vergonhosa, nossa história republicana.

(…) A CUT não reconhece o governo Temer e o condena como ilegítimo, por desrespeitar a vontade da maioria dos cidadãos brasileiros que elegeu a Presidenta Combaterá medidas já anunciadas visando precarizar as relações de trabalho, diminuir o investimento nas políticas sociais, arrochar os salários, acabar com a política de valorização do salário mínimo, privatizar estatais e anular despesas constitucionais obrigatórias com saúde e educação, piorando a qualidade das políticas públicas. Não aceitaremos que a classe trabalhadora e os setores mais pobres da população sejam onerados com mais sacrifícios. (…)

Conclamamos nossas bases a resistir ao governo Temer. Lutamos até agora contra o golpe e continuaremos lutando, nas ruas e nos locais de trabalho, para reconduzir o país ao Estado de Direito, ao regime democrático e para fortalecer o povo, de onde emana todo o poder, para efetuar a necessária reforma de nossas instituições políticas.”

Central de Movimentos Populares (CMP)

“A Central de Movimentos Populares (CMP), que integra a Frente Brasil Popular, vem a público declarar que não reconhece a legitimidade do governo Michel Temer, que toma de assalto o comando do país, por meio de manobras conspiratórias e aliança espúrias que deflagaram o golpe com a aprovação pelo Senado, no início do dia de hoje, a admissibilidade do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Os movimentos sociais continuarão na resistência e luta contra as elites políticas e econômicas que nos últimos anos estreitaram aliancas com setores da midia e do poder judiciário para derrubar o governo eleito, pelo sufrágio do voto popular, mas que colidia com os interesses daqueles que estavam há séculos no comando da nação brasileira.”